terça-feira, 4 de abril de 2017

Mulheres de Indaiatuba: entre avanços e retrocessos, o ativismo é necessário!

No dia 06 de abril (quinta-feira p.f.) às 8h, na base da Guarda Civil Municipal de Indaiatuba da Secretaria de Segurança Pública, pela primeira vez uma mulher receberá, após 28 anos de serviço prestado, o cargo de Diretora da Guarda. Marilsa Aparecida de Souza é Pedagoga e já fez duas pós-graduações: uma em Gestão Pública e outra e, Segurança Pública e Comando. A até então Inspetora também é gestora master dos cursos EAD do Ministério da Justiça e Segurança, através do telecentro instalado na própria base da Guarda e atende mais de 50 cidades do estado de São Paulo.

A notícia de passagem de comando está recebendo destaque nas mídias e de todos os motivos para isso, sem dúvida nenhuma o fato de ser uma mulher destaca, e muito, a notoriedade da solenidade. 

Ao consideramos a História de Indaiatuba já pesquisada e divulgada (que insisto sempre, é ainda um volume muito pequeno), as mulheres possuem pouco destaque, sobretudo numericamente. 

Na Guerra do Paraguai tivemos uma indaiatubana que participou de uma batalha e ganhou destaque nas parcas páginas dos parcos jornais da então Província de São Paulo. Por ter ganho essa notoriedade, deve ter realmente feito algo de significância. Persigo essa informação já há muito tempo e não consigo entrelaçar alguns poucos dados sobre o assunto nem para montar um artigo de poucas linhas. Uma provável heroína anônima, em uma época em que a mulher era vista como ser inferior, inclusive pela ciência. Sobre ela, ficarei devendo, ainda.

Na política, por exemplo, tivemos apenas uma prefeita interina: Helena Tomasi, que na época seria o que hoje é o Secretário da Fazenda, cuidava das entradas e saídas dos recursos da Prefeitura. Na prática, Helena "cuidava" da Prefeitura todas as vezes que os vários prefeitos com que ela trabalhou se afastavam da Prefeitura. Mas oficialmente, isso foi registrado apenas uma vez.  Já como vereadoras, contanto com a atual vereadora Silene Silvana Carvalini, tivemos apenas mais sete: a pioneira Hélen Béssie de Moraes Castilho (1982), Itamar da Silva Maciel, Rita Francisca GonçalvesRosana de Souza Magalhães e Celi Aparecida Brandt (1996), Vera Curi Spadella (2001 e 2008) e Zilda de Andrade (2001). Oito vereadoras em uma Casa de Leis que funciona desde a época do Império, em 1836. É uma representatividade numericamente ínfima.

E é considerando esse cenário atual e passado, de pouca representatividade e sem muito conteúdo com acurácia - que quero manifestar-me sobre a Câmara Municipal, onde sou Chefe de Gabinete do vereador Alexandre Peres, um novo desafio que aceitei por vários motivos, entre eles, o aumento da representatividade da mulher nas ações políticas, mesmo em um cargo técnico.

Atualmente, temos no parlamento indaiatubano 34 funcionárias e uma vereadora, um número que considero bem representativo. Na semana passada, o local foi chamado de "prostíbulo" por um cidadão chamado Charles Escodro, ao qual não conheço, mas cito com segurança pois tenho os prints de suas postagens em uma rede social. Para cravar seu conceito do local, ele ainda escreveu que quem trabalha aqui são "putas".

Considero a prostituição um ofício, inclusive contido na Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e do Emprego do Governo Federal, no código 5198-05. Respeito a liberdade de que todas nós, mulheres, possamos escolher o ofício que cada uma queira, ou ainda, lamento quando algumas, sem outras oportunidades, têm que escolher obrigatoriamente esse ofício como única opção para obter renda, advinda de sua condição histórica e/ou social.

Mas não é por isso que deixo de registrar, com destaque, que minha indignação e profundo desprezo  à essa tratativa, referem-se à forma agressiva com que a classificação foi utilizada com o objetivo de denegrir, diminuir, humilhar e subjugar.

A Câmara Municipal faz leis para nossa cidade há mais de 180 anos, em um trabalho relevante para o bem-estar da comunidade. Neste período, já avançamos e retrocedemos, já lutamos e nos rendemos, entre comunhão e conflito, entre oposição e situação. Neste cenário muitas vezes contraditório, temos hoje uma vereadora, a Silene Carvalini, única que se manifestou contra essa ofensiva. Neste cenário onde a história é feita e refeita e onde se travam batalhas diárias, superando dificuldades e focando em produzir cada vez mais e melhor, testemunho minhas colegas trabalhando, recepcionando, atendendo, assessorando, encaminhando, resolvendo. Administram pessoas, documentos, serviços e produtos. Advogam, escrevem, convencem, limpam, organizam, fazem deliciosos cafés e chás.

Termino esse texto destacando a necessidade de atitude continuada do ativismo pela igualdade de gêneros. Somos iguais, mas entre avanços e retrocessos, muitas vezes, ontem e hoje, ficamos às margens. Margens onde a maioria é mulher, o que nos classifica como diferentes.

Ficamos às margens da consideração e do respeito quando somos tratadas com violência – que inclui violência verbal – realidade que precisa ser confrontada em várias esferas do ativismo ético, com o objetivo de confrontar um dramático atraso cultural de grande parte da sociedade.

Não podemos deixar passar. Não podemos fingir que não houve violência.

E contra ela, todas nós temos que lutar, sempre; por cada uma de nós.

Por mais 'Marilsas'; por menos 'Charles'.

Pelo processo civilizatório.

Pela Humanidade.








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