domingo, 26 de fevereiro de 2017

Bloco "Fantástico" - 1974

 

Fevereiro de 1974
Bloco Carnavalesco "Fantástico"
Coreto da Praça Prudente de Morais - INDAIATUBA

Essa foto tem muita história...





sábado, 25 de fevereiro de 2017

Museu Republicano de Itu - Semana do Dia Internacional da Mulher com Arte



Semana do Dia Internacional da Mulher com Arte
O Museu Republicano “Convenção de Itu” e o Museu Paulista da USP, em consonância com o escritório USP Mulheres, organizou a Semana do Dia Internacional da Mulher com Arte, com palestras e intervenções artísticas. As atividades irão acontecer no auditório do Museu Republicano e em outros espaços da cidade, organizadas por produtores culturais parceiros do museu.
Confira a programação:
Dia 08 de março:
Horário: 10h 
Palestra: Política Pública para as mulheres. 
Ministrante: Tatau Godinho é doutora em Ciências Sociais. Atuando desde os anos 1980 no movimento de mulheres, dedicou-se em particular ao trabalho feminista na área da política. Dirigiu a Coordenadoria Especial da Mulher da Prefeitura de São Paulo, entre 2001 e 2004; foi subsecretária de Programas e Ações Temáticas da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do governo federal em 2005. Servidora pública efetiva, também atuou como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo; e é autora de trabalhos sobre distintos aspectos do feminismo e políticas públicas para as mulheres. Em 2011, assumiu inicialmente a assessoria especial da Ministra e, posteriormente, a Secretaria de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres da Presidência da República (SPM-PR).
Local: Auditório do Centro de Estudos do Museu Republicano "Convenção de Itu"/MP/USP. Rua Barão de Itaim, 140, Centro, Itu/SP.

Dia 09 de março:
Horário: 14h
Oficina: Colcha de retalhos e o feminino.
Ministrante: Morgana Ribeiro. É Artista Plástica formada em Educação Artística no CEUNSP, com especialização em Sócio-construtivismo na PUC-SP e Arte-educação pela UNICAMP. É professora de artes em escolas em Itu e no Cras Pipa, da Prefeitura Municipal de Itu.
Encontro artístico que tem como proposta trazer memórias, vivências e fazeres ligados ao universo feminino, através de diálogos e trocas de experiências.
Estaremos juntas para criar composições artísticas, utilizando materiais que remetem ao feminino: tecido, rendas, linhas, sianinhas, botões entre outros. Cada memória-retalho será parte de uma composição coletiva que formará uma colcha de retalhos, registrando as memórias e o encontro do grupo.
Local: Museu Republicano “Convenção de Itu”. Rua Barão de Itaim, 67, Centro, Itu/SP.

Dia 10 de março:
Horário: 19h
Apresentação da Peça: Monta e Desmonta. 
Atriz e produtora: Camila Luiza.
Monta e Desmonta é uma performance/espetáculo composta por quatro personagens. Sem narrativa linear, este trabalho mostra quadros, fragmentos da vida de quatro mulheres. Em cena são trazidos estereótipos e questões do universo feminino.
A estrutura fragmentada do espetáculo é resultado da pesquisa da atriz, Camila Luiza (bacharel em Artes Cênicas, pela UEL) em seu trabalho de conclusão de curso. A partir de seus estudos sobre o feminino e das imagens criadas pela fotógrafa Cindy Sherman, onde a mesma se transforma em diversas mulheres, com ironia, humor e uma pitada de grotesco, ao representar estereótipos femininos. 
Local: Barracão Cultural. Rua Pedro de Paula Leite, 125, Centro (lateral da Associação Atlética Ituana).

Dia 11 de março: 
Horário: 14h 
Palestra: Os direitos das mulheres - Legislação trabalhista na Primeira República. 
Ministrante: Glaucia Fraccaro. Possui graduação em História pela Universidade Estadual de Campinas (2001), mestrado (2008) e doutorado (2016) em História Social do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas. Foi Coordenadora de Autonomia Econômica das Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Atualmente é professora no curso de História da PUCCAMP. 
Local: Auditório do Centro de Estudos do Museu Republicano "Convenção de Itu"/MP/USP. Rua Barão de Itaim, 140, Centro, Itu/SP.

Sarau “Tecendo arte” na antiga Fábrica São Pedro. 
Horário: das 17h às 21h
Finalizando a programação no sábado, dia 11, a partir das 17h, a antiga Fábrica São Pedro sedia o Sarau Tecendo Arte, organizado pela artista Élida Marques. Em conjunto acontece a mostra de artes visuais organizada pela fotógrafa Daniela Noronha. 
O evento conta com a participação e apoio de várias artistas e da União Negra Ituana e terá como tema: as lutas, direitos, artes e empoderamento das mulheres. 
Local: Fábrica São Pedro/ Itu. Rua Padre Bartolomeu Tadei, N°9, Itu/SP.

SERVIÇOS E INSCRIÇÕES PARA AS PALESTRAS:
Museu Republicano
Aberto de terça-feira a domingo, das 10h às 17h.
Rua Barão de Itaim, 67
Telefone: 55 11 4023 -0240, ramal 3, email: edu.mrci@usp.br , Serviço Educativo

Auditório do Centro de Estudos do Museu Republicano
Aberto de segunda-feira a domingo, das 8h às 17h.
Rua Barão de Itaim, 140, Centro, Itu/SP
Telefone: 55 11 4023 -0240, ramal 3, email: edu.mrci@usp.br , Serviço Educativo.

Atividades Gratuitas.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Reforma do Ensino Médio: um futuro incerto para o ensino da História

O horizonte parece sombrio. 

O ensino da história foi excluída do rol de disciplinas obrigatórias no Ensino Médio, pela Medida Provisória 746/16. Isso significa menos emprego para muitos de nós, que estão se formando. A esse apagamento da disciplina, soma-se, também, a menor – cada vez menor – visibilidade das Ciências Humanas. Afinal, para que serviram, se os grandes debates que atravessaram o século XX não explicaram genocídios e guerras, não impediram a desigualdade, nem a fome ou, nos regimes democráticos, não promoveram a cidadania plena: aquela que agencia educação, saúde e emprego? Sem função aparente, num mundo funcional, elas parecem não ser necessárias.
         Mudanças de conteúdos para o ensino médio têm sido feitas em toda a parte. Nos países que tiveram colônias e que hoje recebem imigrantes, o esforço de explicar os processos de colonização tem por objetivo integrar as populações estrangeiras. Tal agenda fez “cair fora” centenas de especialistas em áreas específicas. A Antiguidade greco-romana, para ficar num exemplo. Até os estudos sobre “alteridade”, que tiveram no recém-falecido Todorov seu ícone, não diminuem a xenofobia e o racismo na “civilizada” União Européia. Termos como “nação” e “fronteiras”, que justificaram barbáries, voltaram ao vocabulário dos políticos. E o que dizer do impacto das comunicações, da tecnologia e da mundialização no contexto da Educação?  Tudo isso joga a História num balaio de interrogações, quando o que buscamos, num horizonte instável, são respostas.
         A nossa disciplina, como tudo, aliás, se transforma. Ela é dinâmica. E penso, que essa talvez seja a hora de meditarmos um pouco sobre a relação entre o “fazer história” ou lecionar história, com o mundo em que vivemos: o “mundo liquido”, como quer Zygmunt Bauman. Ou a “era das incertezas” na expressão de Edgard Morin. Não é fácil.  E, a essa altura, a diminuição do espaço dos historiadores no Ensino Médio parece assustador. Como reagir? O historiador francês, Pierre Nora, já nos definiu como sendo os “profissionais do entusiasmo”. Vamos colocar, então, nosso entusiasmo a favor das mudanças.
        Ora, sabemos que nosso ofício evoluiu, baseado numa lógica de profissionalização cujo objetivo é contribuir ao sucesso educativo do maior número possível de pessoas, usando, para isso, competências e saberes específicos.  Num país grande e desigual, essa evolução não foi a mesma em toda a parte. Mas, correspondeu, sim, a realidades complexas num sistema de ensino que até hoje não se consolidou. E que, inacabado, está “em crise” há tempos. Quem não houve falar em “crise na Educação”?
          Vivemos, simultaneamente, várias crises endógenas. Uma nasce do desequilíbrio provocado pelas dúvidas que emergiram na historiografia, com o fim das certezas do marxismo, as mudanças e questionamentos sobre as narrativas históricas, o papel da memória, a rapidez com que conceitos são criados e abandonados, o relativismo nas interpretações.  Outra se alimenta das dúvidas que a modernidade introduziu por meio de “tecnologias”: arquivos digitalizados, pesquisa através da internet em lugar dos velhos e poeirentos arquivos, infinitas possibilidades de fontes, sobretudo no campo das comunicações: fotografia, cinema, música, ao alcance cada vez mais rápido do pesquisador, submergindo-o. E outra ainda, é proveniente das contradições sociais: alunos desigualmente interessados ou preparados, dependendo do nível de educação que receberam com suas dúvidas, dificuldades e muitas vezes, desinteresse, produto da massificação do ensino. Ora, precisamos dar conta de tantas tensões, não com o objetivo de restaurar uma ordem antiga, idealizada. Mas, tendo em vista uma adaptação às novas realidades, graças à inovação, a renovação e tudo mais que encarne o progresso.
           Sem nenhum cenário pré-definido, acredito que talvez seja esse o momento para pensarmos como sair de rotinas petrificadas, para trilhar um cenário híbrido e rico de contradições que nos obrigará, também, a reconstruir nossa identidade de professores de História do Brasil. Se há uma demanda forte por melhor escolarização em nosso país, vamos colaborar oferecendo um nível de estudos cada vez melhor. Se há aceleração e transformação tanto da sociedade quanto da cultura, façamos o ensino e a produção de História, acompanhá-las. Uma vez que a mudança está aí, nada de nostalgia do passado idealizado, quando a escola distribuía saberes codificados. Aproveitemos para criar mecanismos que combatam a desigualdade, oferecendo aos nossos alunos uma ponte com as novas tecnologias e essa palavra detestada: o mercado. Sim, estou falando em mercado de trabalho, pois é para lá que eles irão.  Como fazer isso? Não tenho receita certa, mas algumas intuições. Teremos que passar por um processo de aprendizado coletivo, sem respostas ou garantias definitivas. Teremos que assumir a incerteza e a ambiguidade diante de um cenário que desconhecemos. Teremos um destino, mas, caminharemos sem mapa ou bússola.
        Todos, porém, que já estivemos ou estamos em sala de aula, acumulamos alguma experiência e aprendemos a desconfiar das derivas autoritárias. Temos um objetivo, e, é em sua direção que iremos caminhar: desenvolver pessoas autônomas e livres. E temos matéria para fazê-lo, respondendo de maneira inventiva às mudanças impostas. Tudo, sem esquecer o otimismo e o bom-humor, inoxidáveis frente às incertezas, ao rancor ou ao pessimismo irracional que tais mudanças costumam criar. Sejamos, sim, em tempos sombrios, os “profissionais do entusiasmo”.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Nota da Associação Nacional de Professores Universitários de História sobre a Reforma do Ensino Médio

Senado Federal aprovou nesta quarta-feira (08 de fevereiro) a Medida Provisória que institui a reforma do Ensino Médio. Tal reforma, proposta pelo atual governo, sofreu forte resistência dentro do Congresso Nacional, de organizações e movimentos do campo social, especialmente, do educacional. Nós, representantes da ANPUH Nacional, nos manifestamos, solidariamente com outras entidades, no repúdio ao processo de proposta de uma reforma do Ensino Médio sem consulta a setores da sociedade ligados à educação. Repudiamos também o conteúdo da Reforma.
Lamentamos a decisão dos parlamentares de aprovarem uma reforma que não teve oportunidade de ser discutida com os educadores que deverão colocá-la em pratica. Fazemos eco com o Movimento Nacional Em Defesa Do Ensino Médio. Não há nada a comemorar! Entendemos que a aprovação dessa Reforma representa mais um golpe na educação brasileira. Um golpe que afetará, principalmente, a formação de jovens e adolescentes das escolas públicas brasileiras.

Consideramos imprescindível acompanhar o processo de implantação da Reforma em cada estado da federação, e as atuações do Ministério da Educação - MEC nessa área. Preocupa-nos seus desdobramentos nas condições de trabalho dos docente, na formulação do currículo (Base Nacional Curricular Comum) e na produção didática. 
Inquieta-nos as articulações entre interesses privatizantes e mercantis na educação, a produção de materiais didáticos estruturados e padronizados, as avaliações em massa e as formas de controle na implantação do currículo.
A aprovação da Reforma se insere num cenário marcado pelo desrespeito às instituições e práticas democráticas. O avanço do autoritarismo que julgávamos extinto com o fim da ditadura militar muito nos preocupa mas exige reação à altura.
Neste contexto, cabe à ANPUH enfrentar os desafios do momento. Vamos acompanhar a ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo Procurador Geral da República junto ao STF sob alegação de que a medida provisória não atendia aos pressupostos de urgência e relevância, como exige a Constituição Federal.
A ANPUH estará atenta aos desdobramentos desta reforma e conclama os associados a se integrarem nessa batalha contra os desmandos que vem ocorrendo na área da educação.




sábado, 4 de fevereiro de 2017

50 anos de Lui Cinematográfica

texto de Marcos Kimura
originalmente publicado aqui.

Hoje (22 de novembro de 2013) acontece o jantar de comemoração dos 50 anos da Lui Cinematográfica, empresa que administra os Multiplex Topazio de Indaiatuba. Além da amizade e parceria que me liga pessoalmente à família Lui por duas décadas, devo ao velho Cine Alvorada, onde a história da empresa começou, muito da minha cultura cinematográfica.


Como quase todo mundo da minha geração, estudei no Grupo Escolar Randolfo Moreira Fernandes, que ficava na Praça D. Pedro II, em frente ao Alvorada. Antes ou depois das aulas, costumávamos ir até a porta do cinema – que fica onde é hoje o Magazine Luiza – e olhar pelo vidro quais seriam as próximas atrações. A nós praticamente só restavam as matinês de sábado e domingo, porque a censura etária na época era bem mais rigorosa que hoje. Era o início da Era de Ouro dos Trapalhões no cinema, que começou com “Robin Hood, O Trapalhão da Floresta”, de 1974. A partir daí, até 1991 com “Os Trapalhões e árvore da Juventude”, Renato Aragão estrelaria pelo menos um filme por ano, sempre liderando as bilheterias.

Na época, durante a semana, aconteciam sessões patrocinadas, em geral com produções voltadas às donas de casa, como “Dio como ti amo” e às quartas havia a sessão dupla dedicada à colônia japonesa (em geral, um longa lacrimogêneo e um de yakuzá). Na Semana Santa era quase obrigatória a exibição de “Paixão de Cristo”, uma versão antiga da vida de Jesus em que seu rosto nunca aparecia, e “Os 10 Mandamentos”, o clássico de Cecil B. De Mille com Charlton Heston. Por outro lado, foi no Alvorada que vi meu primeiro filme proibido, uma pornochanchada italiana estrelada por Edwige Fenech, starlet francesa especializada em exbir seu belo corpo em produções B. Não vi na época, mas lembro da fila de dar volta no quarteirão para ver a sex symbol tupiniquim da época, Sonia Braga, em "Dona Flor e seus Dois Maridos", maior público oficial do cinema nacional até "Tropa de Elite 2".

O problema da distribuição na época é que os grande lançamentos demoravam horrores para chegar até as salas do interior. “Tubarão” (1975), por exemlo, levou mais de um ano para ser exibido em Indaiatuba (quando chegou, tenho quase certeza que faltavam alguns dentes na cópia). Quanta diferença com os lançamentos mundiais simultâneos de hoje em dia. Em compensação, em tempos pré-home vídeo, as cópias circulavam por anos, principalmente as que estavam fora do controle das multinacionais, o que permitiu a sobrevivência dos cineclubes.

Por esse motivo, quando fui fazer o colégio em Campinas, um novo mundo se abriu para mim. Filmes como “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick, visto no Teatro Castro Mendes; e “Manhattan”, de Woody Allen, assistido no Cine Regente, me levaram a descobrir o chamado Cinema de Arte.
Mas mesmo quando me tornei adulto, o Alvorada ainda me proporcionou grandes momentos, como “Apocalipse Now” em sua versão com a destruição do templo  nos letreiros finais, que nunca mais seria vista nas versões posteriores; “Perdidos na Noite”, relançado nos anos 80, creio que por causa da censura da Ditadura Militar; entre outros.

A velha e enorme (mais de mil lugares!) sala da Praça D. Pedro II fechou suas portas em 1989, com “Uma Cilada para Roger Rabitt”, e até a inauguração do Cine Topázio no então Shopping Center Indaiatuba, em 1993, a cidade ficaria sem um cinema. Muita gente cresceu tendo que ir até Campinas ou recorrendo ao VHS para ver filmes.

A família Lui reunida na inauguração do Topázio do Polo Shopping
Nesse período começa minha relação com a família Lui. Em 1992, trabalhando no Votura, fui encarregado de fazer uma matéria sobre o shopping que estava sendo construído no local do antigo Cotonifício. Meu entrevistado era José Roberto Machado, que respondia pelo marketing do empreendimento. Ele me mostrou a planta, apresentou as bandeiras que ancorariam o mall (entre as quais Planet Music, Pakalolo, Sé Supermercados, Casa do Pão de Queijo, Drogasil, únicas sobreviventes de então) e eu falei, tá tudo muito bem, tá tudo muito bom, mas cadê o cinema? Pigarro. “Nós fizemos uma pesquisa que mostrou que não havia a necessidade de um cinema no shopping”, disse. Do alto de meus anos como programador do Cineclube Oscarito, de uma passagem pela Sala da Cinemateca Brasileira, do meu trabalho como técnico de cinema na oficina Cultural Oswald de Andrade e órfão do Cine Alvorada eu disse: “Como assim? Indaiatuba não tem cinema desde 1989 e vocês acham que seu primeiro shopping não precisa de um?”

Indignado, fui fazer outra matéria, dessa vez com Paulo Antônio Lui, que herdara o Cine Alvorada do pai Guerino, que por sua vez tinha sido sócio do ainda mais antigo Cine Rex, que como o Cine Paradiso do filme havia virado estacionamento. Ele me explicou que até tentou viabilizar uma sala no shopping, mas o preço que eles pediam era muito alto. Escrevi um texto revoltado com a oportunidade que a cidade estava perdendo de voltar a ter uma cinema, quando aconteceu uma reviravolta nos acontecimentos. O banco que iria abrir uma agência no shopping desistiu, deixando um espaço bem na entrada da Rua Humaitá. O “buraco” foi oferecido á família Lui, que topou retomar o negócio do cinema. O projeto foi feito por um amigo do cineclubismo, Luiz Bacelar, do Cineclube Barão, de Campinas, e surgiu o Topázio. O primeiro filme foi “O Último Grande Herói”, com Arnold Schwarzenegger. Na pequena sala, Indaiatuba assistiu grandes blockbusters como “O Rei Leão” e “Titanic”, participou de eventos mundiais como o pré-lançamento de Star Wars – Episódio 1”, numa sessão à 00h01 e criou uma geração de cinéfilos. E o que se viu em relação ao shopping, que ganhou o nome Jaraguá ao ser adquirido pelo ex-governador Orestes Quércia? O Topázio é que virou a grande âncora do mall, tanto é que o grupo Sol Panambi resolveu investir num mezzanino para abrigar o multiplex e quatro salas. Quando o Polo Shopping veio, a Lui Cinematográfica era a escolha natural para gerenciar as novas cinco salas. Hoje, Indaiatuba tem o mesmo número de salas que tinha Campinas nos meus tempos de colégio.

Desde 2005, o Topázio abriga o Cineclube Indaiatuba, iniciativa minha e do Antônio da Cunha Penna, que vinha peregrinando por diversos espaços da cidade – sede da Sociedade Cantátimo, Colégio Monteiro Lobato, Livraria Vila das Palmeiras – em mídia VHS e depois DVD. Ao invés de clássicos da Sétima Arte, passamos a exibir lançamentos do segmento Arte, que de outro modo jamais seriam exibidos aqui em tela grande. O bate-papo pós projeção são um plus, mas o mais importante, para mim, é aos poucos criar um público mais exigente que permita, no futuro, inserir filmes de qualidade na programação normal.

Em 50 anos, a Lui Cinematográfica viveu a passagem das lâmpadas de carvão para as de xênon; do sistema de dois projetores para o rolo único na horizontal e, finalmente, a projeção digital, talvez a maior revolução na exibição cinematográfica desde os irmãos Lumière. O que se manteve nesses meio século da Lui Cinematográfica é a conexão com seu público, o cuidado com suas salas e com a qualidade da exibição. Parabéns a Paulo Antonio Lui e sua família por manterem vivo o cinema em Indaiatuba.


Saguão do Cine Alvorada - Década de 1980

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

"Mas os meus fracassos são as minhas vitórias..."

Eliana Belo Silva



Hoje, dia 01o. de fevereiro de 2017, a Fundação Pró-Memória de Indaiatuba comemora 23 anos. 

Neste dia simbólico, encerro minha participação na instituição.

Como Conselheira Fundadora que fui - estando nela deste antes dessa data, auxiliando na sua organização e composição - despeço-me com lembranças de ter participado de pequenas e relevantes vitórias, mas de um número muito maior de grandes e desastrosas derrotas.

Despeço-me com alívio, pela liberdade que conquisto em continuar firme, fazendo tudo o que eu acredito sem nenhuma amarra institucional. Opto (como sempre optei) pelos princípios que acumulei durante minha vida, advindos do meu temperamento e caráter, somados aos preciosos anos de intensa e apaixonada dedicação ao estudo sobre a História, Memória e Patrimônio de Indaiatuba, metodologicamente direcionados pela minha formação como Historiadora e Pedagoga.

Continuo aqui no blog, mantendo esse repositório consultado sobretudo por estudantes, jornalistas e pesquisadores, aos quais permaneço sempre à disposição para compartilhar não só o que está aqui, mas tudo o que sei e tenho, como sempre fiz, pronta e prazerosamente.

Por fim, encerro justificando que obviamente sou a favor do restauro do prédio histórico do antigo 'Randolfo", desde que em acordo com o Laudo Técnico emitido - na íntegra. Não compactuo com decisões parciais ou subjetivas de naturezas diversas, principalmente as pautadas no medo, e mais ainda quando as mesmas estão em desacordo com requisitos legais (leis) e regulatórios (laudo técnico). 


Nota: as atas da Fundação Pró-Memória são públicas, não quebro confidencialidade ao fazer este post.
Cronologia


1) Secretaria da Cultura esvazia o Centro Cultural Vanderlei Peres (antigo prédio do "Randolfo") e anuncia reforma. Há tempos o prédio apresentava problemas de umidade.

2) No dia 3 de janeiro de 2017, devido a um temporal, um galho de uma árvore cai na região nordeste da Praça D. Pedro II, afetando um dos ângulos da cobertura do Grupo Escolar “Randolfo Moreira Fernandes”, agravando a situação.

3) Prefeitura inicia a reforma sem autorização da Fundação Pró-Memória, não tendo conversado antecipadamente sobre a reforma com nenhum dos conselhos: Conselho Consultivo, Conselho Administrativo ou Conselho Municipal de Preservação. Justifica que a reforma é emergencial.

4) No dia 10 de janeiro, parte dos Conselheiros são informados, por mensagem - que a reforma havia iniciado.

5) No dia 11 de janeiro, a comunidade preservacionista do grupo virtual do Facebook Indaiatuba Ativa publica post sobre a reforma, questionando a intervenção que troca as telhas originais (francesas) por telha romana capa e bica (modernas). O prédio é um bem declarado com a intenção de tombamento e isso não pode ser feito sem anuência da Fundação.

6) No dia 12 de janeiro, após essa publicação e comoção na rede social, o secretário responsável pela reforma, Robeniton Oliveira Lima, a secretária da cultura e responsável pelo prédio, Érika Hayashi Kikuti, a secretária adjunta Graziela Milani Narezzi e o chefe de gabinete do prefeito Nilson Gaspar, Fábio Conte, reunem-se com o presidente do Conselho de Preservação Lauro Ratti.

O Conselho Municipal de Preservação é um órgão deliberativo vinculado à Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, ao qual compete formular as diretrizes e estratégias necessárias para garantir a preservação de bens culturais do município de Indaiatuba, adotando todas as medidas cabíveis para tanto.


7) Acorda-se, entre as citadas partes, que a reforma teria continuidade somente após a emissão de um Laudo Técnico emitido por profissional reconhecidamente competente e independente.

8) O Laudo Técnico Pericial número 092/2017 (documento público, que está no Casarão Pau Preto) é emitido, com o seguinte conteúdo (entre outros):

10) Em 31 de janeiro de 2017 o Conselho de Preservação, por 5 votos contra 2, aceita que a reforma continue com "atendimento parcial ao Laudo Emitido". No mesmo dia, o Conselho de Administração, por 5 votos contra 1  também aceita o "atendimento parcial ao Laudo"





"Fracassei em tudo o que eu tentei.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se automamente e fracassei.
Mas os meus fracassos são as minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."(Darcy Ribeiro).


Este é um fragmento da Carta de Atenas: 
A conferência está convencida de que a conservação do patrimônio e arqueológico da humanidade interessa à comunidade dos Estados, guardiã da civilização, deseja que os Estados, agindo no espírito do Pacto da Sociedade das Nações, colaborem entre si, cada vez mais concretamente para favorecer a conservação dos monumentos de arte e de história. (...) (IPHAN, 2007).


Entende-se que toda memória é coletiva, pois visa a continuidade e a resistência a mudanças. É um elemento de identidade, ao ser entendida como componente de coesão de grupos e instituições, sendo definidora, e também questionadora, de lugares de memória. Daí entendermos os motivos pelo qual os “donos do poder” preocupam-se tanto com o que será lembrado e o que será esquecido (PEREIRA, 2002)


Este um trecho da Carta de Veneza:
Portadoras de mensagem espiritual do passado, as obras monumentais de cada povo perduram no presente como o testemunho vivo de suas tradições seculares. A humanidade, cada vez mais consciente da unidade de valores humanos, as considera um patrimônio comum e, perante as gerações futuras, se reconhece solidariamente responsável por preservá-las,impondo a si mesma o dever de transmiti-las na plenitude de sua autenticidade. (IPHAN, 2007).


Este um trecho da Carta de Quito:
V - Valorização Econômica dos Monumentos. Partimos do pressuposto de que os monumentos de interesse arqueológico, histórico e artístico constituem também recursos econômicos da mesma forma que as riquezas naturais do país. Consequentemente, as medidas que levaram a sua preservação adequada utilização não só guardam relação com os planos de desenvolvimento, mas fazem ou devem fazer parte deles. (IPHAN, 2007)







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