quinta-feira, 28 de julho de 2016

Arquitetura jesuíta em Indaiatuba

texto e imagens de Charles Fernandes

Esta semana (1) tive o privilégio de visitar a Vila Kostka, em companhia do Padre Adilson da Silva SJ, que está revolucionando essa comunidade dos jesuítas em nossa cidade, implantando uma Gestão Sustentável para o conjunto do “Mosteiro de Itaici”, inclusive tornando acessível à população este que é um dos maiores patrimônios históricos e culturais da cidade.

Ao adentrar nas terras do Mosteiro, já podemos observar o cuidado com que a natureza é tratada, enorme parte da área é de reserva ambiental e Área de Preservação Permanente do Rio Jundiaí, formando uma das áreas de conservação mais bem cuidadas e tratadas do município.

Uma das inúmeras atividades oferecidas no local - principalmente para as pessoas que fazem retiro espiritual, participando de cursos e palestras (2) é uma caminhada ecológica por uma trilha ambientalmente desenvolvida para que o visitante percorra os remanescentes florestais com o mínimo de intervenção no ecossistema. Como especial atributo desta trilha, não posso deixar de citar a riqueza da avifauna  local, não só atraída pela mata ciliar do Rio Jundiaí, mas pelo estado de preservação da área, rica em biodiversidade e populosa em árvores e animais.

Ao chegar ao ponto mais alto do sítio histórico, nos defrontamos com as fachadas do Mosteiro de Itaici (3), construídas na primeira metade do Século XX, terminadas em 1950, formando um conjunto arquitetônico eclético, que tem como referência as antigas instalações Jesuítas do Rio de Janeiro imperial. A Arquitetura Eclética é conhecida por adotar referenciais de linguagem para suas edificações, e essa parte da Vila Kostka é uma releitura da arquitetura Maneirista e Barroca, utilizada pelos Jesuítas em sua estadia desde o início do Brasil Colonial.(4)

Arquitetonicamente, são duas alas que ladeiam um Bloco Central, e que tem a igreja como eixo de simetria. O mosteiro desenvolve suas celas, (sim chamamos os quartos de um mosteiro de celas),  entre dois belos pátios internos. Esta disposição típica de mosteiro, foi também muito usada como referência em outras obras ecléticas, como por exemplo,  o nosso Hospital Augusto de Oliveira Camargo

Quando falamos em Ecletismo, já podemos falar que existiam tendências, alias, foram os artistas desta época que criaram este conceito. A fachada principal da igreja do Mosteiro, possui organização Maneirista, vale dizer que esta referência vem da história dos próprios Jesuítas, cuja ordem vem do início do Século XVI, na Contra-Reforma da Igreja Católica, quando saíram pelo mundo a fazer suas instalações, sempre seguindo as regras determinadas por uma Bula Papal, que indicava toda a disposição de seus templos. 

As janelas e portas da Vila Kostka,  são todas em linguagem barroca, com arcos abatidos, adornada por rocalhes; o frontão estilizado completa a linguagem com um belo óculo deslocado, com desenho quase triangular, volutas barrocas também arrematam  esta composição, separando o frontão dos lindos campanários. 

Uma interessante curiosidade sobre a linguagem da fachada da igreja está nas pilastras que separam o os campanários da parte principal da fachada, são pilastras estilizadas, toscas, (as pilastras da ordem TOSCANA não tinham frisos, portanto eram mais simples), mas se apresentam com uma relação proporcional conhecida como“colossal”. 

A ordem Colossal, de colunas, que ultrapassa vários andares e adquire grande porte na edificação, foi uma invenção do Michelangelo, e que marca o início do Maneirismo,  que irá preceder o Barroco. Analisar os detalhes da fachada da Vila Kostka é uma grande aula de história, a disposição, ao vivo e a cores.

Na parte posterior da Vila Kostka, está toda uma infraestrutura moderna que culmina no auditório mais sofisticado da cidade (5),  que era de uso na ocasião das reuniões da CNBB Confederação Nacional dos Bispos do Brasil; instalações de cozinha industrial modernas que servem os antigos refeitórios do Mosteiro, dão um caráter de sitio histórico com o pé na atualidade, mostrando ser possível a perfeita integração do antigo com o novo.

Visitar a Vila Kostka foi uma das experiências mais gratificantes que tive este ano, conhecer este patrimônio que pertence também ao povo de Indaiatuba, e vê-lo ser tratado com uma gestão que prima a Conservação,  Humanização e a Sustentabilidade, faz com que eu reitere minha fé. 

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(1) Inverno de 2016 (julho).
(2) Veja a programação de atividades na Vila Kostka aqui.
(3) A ordem Jesuíta não é uma ordem Monástica, eles não possuem Monges, são uma ordem de filósofos e teólogos e o prédio não foi construído para ser exatamente um mosteiro, mas o nome “Mosteiro de Itaici” acabou adotado pela população e a Vila Kostka, aceita e usa este termo como forma de respeito às tradições populares.
(4)  Em outro sítio histórico na mesma propriedade, temos a Vila Marensa, mais antiga, onde a importância histórica vale um texto próprio, dadas às especificidades históricas. Essa Construção possui um prédio cujo núcleo é feito em técnicas e de disposição que remetem a arquitetura Bandeirista, e que foi ampliado em diferentes épocas. Devido a complexidade e diferença entre os Prédio da Vila Marensa e Mosteiro,  para questões didáticas este texto se atém ao prédio do Mosteiro.
(5) Inclusive, alugado para eventos.
















2 comentários:

  1. Deize c. B. De Morais21 de agosto de 2016 às 10:57

    Seria necessário retificar algumas informações a respeito de datas e esclarecer melhor as diferenças entre a antiga sede dos jesuítas, atual vila Manresa, originalmente pertencente a João Tibiriçá Piratininga e a atual, chamada Vila Kostika, que teve o início de sua construção em 1950, portanto na segunda metade do séc. XX. No site da vila há informações bastante detalhadas, escritas por Eliana Belo com informações do Pé. Cardoso.

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    1. Deize, sua revisão foi considerada e o autor fez as devidas correções. Obrigada por colaborar!

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