quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Sobre a grafitagem em patrimônios históricos

Os “Arcos do Jânio” e o grafite: valorização ou desrespeito ao patrimônio?

Por Márcia Pinna Raspanti.
Nunca se falou tanto sobre preservação do patrimônio histórico como nos dias atuais, pelo menos em São Paulo. A polêmica começou quando a prefeitura autorizou uma obra de grafite no muro de arrimo dos chamados “Arcos do Jânio” ou “do Bixiga” no acesso para a Avenida 23 de Maio (Veja o histórico baixo).  A discussão se tornou acalorada, dividindo a população. Mais que debater gostos pessoais ou preferências políticas, acredito que devemos refletir sobre o impacto da ação no nosso patrimônio, já tão castigado, não apenas em São Paulo, mas em grande parte das cidades brasileiras.
De acordo com a arquiteta Nádia Somekh, presidente do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), que autorizou o grafite no local, a intervenção buscou dar maior visibilidade ao patrimônio, que sofria com as pichações. “O muro de arrimo está pintado com tinta impermeabilizante há cerca de seis anos. O mesmo acontece com os tijolos que foram fabricados com uma técnica pouco usada no Brasil da época, trazida por imigrantes italianos. É bom destacar que o grafite foi realizado apenas no muro de arrimo, não afetando os tijolos”, explica.
Nádia informou também que os tijolos devem ser restaurados. É necessária uma avaliação técnica das tintas que foram utilizadas ao longo dos anos. “Já conversamos com a atual administração e demonstramos a importância da restauração. Aqueles arcos representam um documento importante para a história da cidade”.  Quanto ao conteúdo do grafite, a presidente do Conpresp afirma que o conselho não pode intervir. “O artista tem liberdade para realizar a sua obra. É bom lembrar que o grafite é uma arte efêmera, que pode ser alterada a qualquer momento”.
A intervenção suscitou uma discussão bastante interessante que envolve duas visões diferentes a respeito da preservação patrimonial. A tradicional defende que o patrimônio deve permanecer “original”, sem mudanças de qualquer tipo; e uma mais moderna, que admite intervenções para sua valorização. “Acredito na segunda corrente, mesmo porque as restaurações já alteram de alguma forma a obra. É importante facilitar o diálogo entre a população e o patrimônio da cidade, deixando sempre claro as ações realizadas”, diz.
O professor Paulo de Assunção, doutor em História pela USP e pela EHEES de Paris,e autor do livro “História do Turismo no Brasil, entre os séculos XVI e XX”, acredita que a polêmica em torno do grafite nos Arcos do Bixiga foi causada pelo fato “de não estarmos acostumados com esse tipo de abordagem”. “Para a maioria da população, o patrimônio deve ser ‘imexível’. Mas, acredito que a intervenção representa uma possibilidade de diálogo muito avançada e interessante com a cidade. O grafite é quase um grito chamando a atenção para a existência dos arcos”.
Assunção apenas questiona o conteúdo do grafite. “Acho que poderia se propor uma obra que abordasse a história da cidade, com a mediação do poder público, dando uma direção ao artista”. O professor, contudo, ressalta que o grafite tem o grande mérito de ter dado destaque à preservação patrimonial em São Paulo. “O nosso patrimônio está dilapidado e esquecido. Este tipo de intervenção pode ser uma forma de valorizá-lo”, diz. Assunção defende ainda o ensino de educação patrimonial no Ensino Fundamental.
A polêmica não se restringe ao Brasil. Todos lembramos de quão controversa foi a construção de um conjunto de edifícios em forma de pirâmides no Museu do Louvre, ou da confusão criada em torno de um grafite realizado, inclusive por artistas brasileiros, na fachada do castelo Kelburn em Edimburgo, na Escócia. Por aqui, o debate ainda deve se prolongar por muito tempo, mesmo porque a tendência é que haja outras intervenções do tipo no Brasil, mesmo com a resistência dos mais conservadores. Quem sabe se assim acordamos para a responsabilidade de preservar e valorizar a nossa história?



HISTÓRICO- Conheça mais sobre os famosos arcos
Um muro de arrimo foi construído entre 1908 e 1914 para conter a encosta da Rua Jandaia, na Bela Vista. Composto por 21 módulos, em arcos separados por pilastras, o muro preenche o desnível existente entre as ruas Jandaia e Assembleia, alcançando cerca de onze metros em seu ponto mais alto.
Aos poucos, uma faixa de terreno compreendida entre o muro e a Rua Assembleia foi ocupada por sobrados, datados da década de 1930. Construídos com os fundos voltados para o “paredão da municipalidade”, os sobrados o encobriam em grande parte. Um projeto de reformulação viária, elaborado nos anos 60, previa a interligação das avenidas 23 de Maio, Brigadeiro Luis Antônio e a recém-aberta Radial Leste-Oeste. O processo de desapropriação de casas da Rua Assembleia foi aberto, prevendo-se sua demolição. Enquanto se efetuava o pagamento das indenizações, as casas foram invadidas por famílias carentes, situação que perdurou por vários anos.
A prefeitura obteve a reintegração de posse somente em 1987, quando foi feita a demolição das casas e a integração da área à malha viária urbana, com a criação de um acesso entre a 23 de Maio e a Radial Leste-Oeste. Assim, foram descobertos os famosos arcos, que ficaram conhecidos pelo nome do prefeito que realizou a demolição, Jânio Quadros.
Fonte para o Histórico: Prefeitura de São Paulo.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Descaso com o patrimônio: da ficção à realidade

Texto de Natália Nogueira
Casarão Pau Preto - Crédito Rosangila Romanin

Muitas pessoas da minha geração são fãs de filmes de mistério e aventura. Na minha adolescência, eu tinha um pôster da personagem Indiana Jones pregado na porta do meu guarda-roupa. Sempre gostei de filmes que mostram ruínas antigas, o interior de palácios e museus, dada a minha predileção, desde menina, pela História. Sonhava em ser arqueóloga, em descobrir e explorar cidades perdidas e coisas do tipo.
Mas outro dia, revendo um desses filmes, percebi uma coisa: muito mais do que estimular a preservação, eles promovem a destruição do patrimônio. Se formos observar atentamente, entre uma cena de ação e outra, lá se vai parte de algum patrimônio natural ou histórico, demolido, enterrado ou explodido. O que se conquista, ao final, não vale aquilo que foi perdido, por assim dizer.
A destruição do patrimônio é tão banalizada pela ficção que, na vida real, acaba tendo o mesmo destino. A cada vez que me aventuro por uma rua que pouco utilizo durante a minha rotina de trabalho, observo uma nova mudança no espaço urbano. Infelizmente, em boa parte das vezes, é uma mudança que está relacionada com a depredação de algum patrimônio, seja ele natural ou arquitetônico.


BUSTO DE DOM JOSÉ - LARGO DA MATRIZ
Observo construções antigas, lindas na sua simplicidade, abandonadas. Os donos morreram, os herdeiros não entram em acordo, a casa vai se desmanchando, tornando-se uma ameaça à segurança de vizinhos e de pedestres. Em seguida, vem a demolição. O que me incomoda não é necessariamente a demolição, mas o abandono. O descaso com um lugar de memória, onde viveram várias gerações.
Observo, ainda, quase que diariamente, o antigo córrego da cidade ir gradativamente se transformando em um esgoto. O lugar onde, na minha infância, primava pela beleza natural e chamava a atenção pelas borboletas dos mais variados tipos e tamanhos e pelos peixinhos coloridos, agora mais parece um depósito de lixo onde corre um pequeno veio d’água contaminado pelo esgoto.
Se a arte imita a vida, o grande problema estaria, talvez, no valor que damos àquilo que nos cerca. Num filme, destrói-se uma pirâmide de milhares de anos para se recuperar um diamante, sem levar em conta que o valor daquele edifício extrapola em muito o valor de um diamante, por maior que ele seja. Da mesma forma, quando se destrói um patrimônio público ou privado, perde-se muito mais, pois aquela memória dificilmente será recuperada. Os cineastas poderiam tentar explodir menos ruínas e as famílias, juntamente com o poder público, poderiam tentar preservar mais sua memória.
Quando digo memória, estou falando também de coisas pequenas, não necessariamente de edifícios ou monumentos. Darei um exemplo para ser mais clara. Noutro dia, passei em frente a uma casa que foi abandonada. Lindíssima, com entalhes de madeira belíssimos. Espiando pela janela da casa (o que sobrou dela) percebi que lá dentro ainda havia objetos de uso pessoal. Pequenas memórias deixadas para trás.

HAOC - HOSPITAL AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO

Demolir uma casa antiga não é necessariamente o problema. Por mais que se deseje, nem todo patrimônio pode ser preservado. Mas o descaso, o abandono, isso, sim, é problemático. Implica a ausência de memória, ou melhor dizendo, de apego a ela. Não existe o sentimento de pertencimento. A identidade individual, e mesmo coletiva, está ausente ou é disforme.
O patrimônio natural e histórico é efêmero. Um dia, tudo acaba, nada é permanente. Mas a memória pode permanecer. A vida útil de um edifício, de uma pintura ou mesmo de um pequeno córrego pode ser prolongada, tanto pela importância que eles possuem para a coletividade, quanto pela necessidade de referências que permitam o desenvolvimento cultural e humano de uma comunidade.
Para encerrar esta breve explanação, gostaria de citar o exemplo de Patos de Minas, município que conquistou, com ações realizadas no decorrer do ano de 2013, o 8º lugar em preservação entre os 853 municípios mineiros. Patos de Minas teve seu ICMS cultural pontuado em 16,49, o que lhe rendeu quase meio milhão de reais que estão sendo investidos no patrimônio cultural até o ano corrente. Um exemplo para outras cidades de Minas e de todo o Brasil. A prova que poder público e comunidade podem ganhar com a preservação.

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No final de 2008, o prefeito em exercício, o major José Onério, ratificou um decreto tombando sete bens de valor cultural em nossa cidade:
 (1) a antiga sede da Fazenda Engenho D´Água, localizada no Jardim Morada do Sol, 
(3) a Casa Paroquial, 
(5) o busto de Dom José de Camargo Barros, 
(6) a Caixa D´Água do Casarão, e 
SUGESTÃO DE LEITURA
Patrimônio Cultural de Patos de Minas está entre os melhores de Minas Gerais. Disponível em: http://defender.org.br/noticias/patrimonio-cultural-de-patos-de-minas-esta-entre-os-melhores-de-minas-gerais/ , acesso em 20/02/2015

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Comercial UsTop - Seu Jeito de Viver - 1976 - FAZENDA PIMENTA


Comercial da Calça Jeans US TOP feito na Estação Pimenta - Indaiatuba - 1976.

A prédio da Estação Pimenta é um patrimônio histórico que necessita de restauração urgentemente.

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