sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Padre Antônio Jannoni

Eliana Belo Silva

Publicação original: coluna semanal "Identidade Indaiatubana"

Jornal Exemplo de 30/10/2015



Foi em outubro de 1956, há 60 anos atrás, que Indaiatuba se despediu de um de seus mais queridos e polêmicos párocos, o Pe. Antônio Jannoni, que havia chegado aqui em 1945, tendo ficado, portanto, durante 11 anos e meio, bastante intensos, na função. 


O preço por ser diferente


Pe. Jannoni chegou em 13 de abril de 1945, sendo empossado pelo vigário geral da diocese que representou o bispo D. Paulo de Tarso, que não pode vir no evento registrado pelo memorialista Nilson Cardoso de Carvalho como tendo sido muito solene. Tanto esse pesquisador, que escreveu o importante livro “A Paróquia Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba (1832-2000)” como a maior parte da população, classificava o vigário como um profissional dinâmico, diferente, participativo, popular, ativo, portador de uma alegria contagiante e outros adjetivos que obviamente lhe renderam a antipatia e até a rejeição dos quem eram conservadores demais. Teve até quem comemorou quando ele deixou a paróquia, benzendo-se pela volta do ortodoxismo conservador.



Antecedentes


O Pe. Jannoni nasceu em 1914 e ordenou-se no dia 15 de agosto de 1939. Foi seminarista em Valinhos, exerceu trabalhos em Cordeirópolis e quando veio para Indaiatuba - onde residiu com suas irmãs, Lúcia e Anita Jannoni - tinha 31 anos.


Carisma

Gostando ou não gostando, o fato é que o padre Jannoni trouxe novamente o povo para a Igreja, que se encontrava desarticulado devido à doença e posterior morte do Pe. Vicente Rizzo, seu antecessor, que havia feito, sob autorização da Diocese no ano de 1942, a primeira romaria organizada pela paróquia para Bom Jesus de Pirapora, com trinta cavaleiros. Registre-se que os helvetianos já faziam essa romaria bem antes disso.


Vaquinha


Quando chegou na paróquia, Pe. Jannoni fez um inventário de todos os bens da igreja e da casa paroquial. Deu por falta de alguns itens e logo tratou de fazer uma vaquinha entre os comerciantes locais. Angariou fundos e recebeu objetos e mantimentos, registrando todas as doações no livro Tombo, juntamente com os nomes dos colaboradores.




Empreendedor


Em onze anos de gestão construiu nada menos do que sete capelas em nossa Indaiatuba: Santa Maria Goretti, a de Itaici, do bairro Mato Dentro, da fazenda Campo Bonito, da fazenda Cruz Alta, de Nossa Senhora Aparecida e a do Cemitério. Promoveu também uma reforma na Matriz Nossa Senhora da Candelária (que pena... a matriz teve tantas reformas que perdeu muito de suas características originais).



Festeiro


Em uma época sem televisão e internet, as festas religiosas atraiam muito a população. Eram quermesses, procissões, missas campais em alusão ao Dia do Trabalho, ao dia 13 de Maio, a Padroeira da cidade, a São Benedito, a Santo Antonio e até uma festa de cultura popular: a Festa do Divino, que aconteceu no dia 15 de agosto de 1947, quando a Bandeira do Divino saiu às ruas com a autorização da Cúria Diocesana. Ele participava como cavaleiro, sendo um romeiro assíduo em todas as romarias para Pirapora de sua época.



Esportista fanático


O padre foi presidente do Esporte Clube Primavera, time de futebol de Indaiatuba. E no ano de 1949, no domingo em que teve o jogo final do Campeonato Regional Amador do Estado de São Paulo, entre o Primavera e o Gazzola de Itu, o padre suspendeu a missa para receber o nosso time, que havia sido campeão. Não é à toa que Antonio da Cunha Penna narra esse episódio como “O dia em que Indaiatuba parou”.



Padre Antonio Jannoni faleceu em Piracicaba em setembro de 1990, com 76 anos, vítima de complicações de diabetes.




Imagem do Arquivo Público da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba

Cedida por Alcides Gaspar



Diploma de "Zeladora do Apostolado da Oração"
Dado para: Maria de Lourdes Ré Cogo (acervo da família)
25/06/1954 - Paroquia Nossa Senhora da Candelária – Indaiatuba-SP
Pároco na época: Padre Antônio Jannoni




Evento religioso promovido pelo Padre Jannoni 
O local é em frente a Matriz Nossa Senhora da Candelária, em 1951
O prédio da esquerda é a antiga escola.



 Grupo de Escoteiros de Indaiatuba, ano de 1947
Acervo Art-Foto / Sergio Ueda



Terceira Romaria de Indaiatuba para Pirapora
Na foto: Padre Jannoni, Isolina, Delphina (Pina) Delboni, D. Albertina, Sr. Cristiano Magnusson, Sarah Nicolau, Dona Ema (mãe do Cristiano)


Historia dos escoteiros
historia do escoteirismo

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Divisas de Indaiatuba

MUNICÍPIO DE INDAIATUBA
(Criado em 1859)


Divisas Municipais de acordo com a Lei Nº 8.050, DE 31 DE DEZEMBRO DE 1963*

1 - Com o Município de Monte Mor

Começa no divisor entre as águas do ribeirão Mandacaru e córrego Santa Idalina, de um lado, e as dos ribeirões Campo Grande ou Monjolo Grande e Caninana, do outro lado, no ponto de entroncamento com o contraforte nerte as águas do ribeirão Campo Grande ou Monjolo Grande, à direita, e as do ribeirão Caninana, à esquerda; segue por este contraforte até a foz do ribeirão Campo Grande ou Monjolo Grande, no rio Capivari-Mirim; sobe por este até a foz do primeiro córrego, à margem direita abaixo do córrego Mato Dentro.

2 - Com o Município de Campinas

Começa no rio Capivari-Mirim na foz do primeiro córrego da margem direita, abaixo do córrego Mato Dentro; sobe pelo rio Capivari-Mirim até o tanque da Fazenda Bom Fim.

3 - Com o Município de Itupeva

Começa no rio Capivari-Mirim, no tanque da Fazenda Bom Fim; sobe pelo córrego da Fazenda Quilombo, sobe por este até sua cabeceira mais meridional, no espigão entre as águas do rio Capivari-Mirim, ao Norte e as do rio Jundiaí, ao Sul; alcança na contravertente a cabeceira mais oriental do córrego da Fazenda Itatuba, que nasce ao Norte da Fazenda Santa Teresa; desce por este até o rio Jundiaí; desce por este até a foz do ribeirão Santa Rita; sobe por este até sua cabeceira mais meridional, no espigão entre as águas do rio Tietê, ao Sul, e as do rio Jundiaí, ao Norte
.
4 - Com o Município de Itu

Começa no espigão entre as águas do rio Jundiaí, ao Norte, e, as do rio Tietê, ao Sul, na cabeceira mais meridional do ribeirão Santa Rita; segue pelo divisor que deixa, à direita, as águas do córrego do Valério, e, à esquerda, as do ribeirão Água Branca ou Cana Verde até a foz do córrego do Valério, no ribeirão da Grama.

5 - Com o Município de Salto

Começa na foz do córrego do Valério, no ribeirão da Grama; segue, em reta, até a cabeceira mais oriental do córrego Barreirinho; desce por este e pela água do Barreiro até o rio Jundiaí, pelo qual sobe até a foz do córrego Joana Leite; sobe por este até sua cabeceira mais ocidental, indo depois, pelo divisor fronteiro até o contraforte da margem esquerda do córrego do Garcia; segue por este contraforte até a foz do córrego do Garcia, no ribeirão Buru; sobe por este até a foz do segundo córrego abaixo da foz do córrego do Rosa.

6 - Com o Município de Elias Fausto

Começa no ribeirão Buru, na foz do segundo córrego abaixo da foz do córrego do Rosa; sobe pelo ribeirão Buru, até a foz do córrego Campo Bonito; segue pelo contraforte entre estes dois cursos de água até o espigão entre as águas dos rios Tietê e Capivari-Mirim; continua por este espigão até o divisor que deixa, à esquerda, as águas do córrego Santa Idalina e ribeirão Mandacaru, e, à direita, as dos ribeirões Campo Grande ou Monjolo Grande e Caninana; segue por este divisor até seu entroncamento com o divisor entre os ribeirões Campo Grande ou Monjolo Grande e Caninana, onde tiveram início estas divisas.



sexta-feira, 23 de outubro de 2015

MATADOURO

Eliana Belo Silva

Coluna semanal "Identidade Indaiatubana" - Jornal Exemplo

Publicado em 23/10/2015


MATADOURO

Atualmente contamos com normas, regulamentadas por lei, que padronizam o abate de animais para o consumo em abatedouros e matadouros, inclusive os que contém frigoríficos.


Essas normas possuem requisitos não só de operação e padronização de instalações, transporte, rastreabilidade, higiene, limpeza, armazenamento, etc. - mas também requisitos que obriga o emprego de métodos científicos e modernos de insensibilização (métodos científicos, mecânicos, químicos, elétricos) aplicados nos animais destinados ao consumo, antes da sangria, para que o animal não sofra. 


Os próprios organismos regulatórios reconhecem que, mesmo com a aplicação de multas, o processo precisa de melhorias e sobretudo fiscalização.


Em Indaiatuba, tivemos um matadouro.


Ele foi construído em 1918 por Pedro Filetti em um terreno que era de Henrique de Araújo Campos, e que ele trocou com a Prefeitura, que plantou eucaliptos em volta do prédio, conforme registrou o prefeito da época, Major Alfredo Camargo da Fonseca, em relatório.


O chamado ‘abate humanitário’ é uma discussão recente.


A vida moderna nos separou dos animais domésticos que tínhamos antigamente em nossos quintais – tanto que a maior parte das sociedades protetoras dos animais sensibilizam-se apenas com gatinhos, cachorrinhos e passarinhos. Essa separação nos insensibilizou, durante muito tempo, para o sofrimento dos bichos abatidos.


Urge aprender com a história e usar a informação para a construção de um futuro mais sustentável. Comece tirando a carne (qualquer uma delas) do seu cardápio uma vez por semana.


A pecuária é um setor de alto impacto ambiental: gera muito resíduos sólidos, gasosos (que inclusive afetam a camada de ozônio), avança nos biomas nativos (floresta Amazônica que o diga) e é responsável por um consumo gigante de água.




















Crédito das imagens do Matadouro Municipal de Indaiatuba
Acervo de Cecília Narezzi Correr
Contribuição de Carla R. Correr e Eny Fatima Correr
Originalmente disponibilizada no Indaiá-Dinossauros



quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Inscrições para Oficina do Patrimônio de novembro do Pró-Memória e UNICAMP

A Fundação Pró-Memória recebe a partir de  sexta-feira (23 de outubro) as inscrições para mais um curso gratuito do projeto Escolas do Patrimônio, projeto que vêm executando deste 2014 em parceria com a UNICAMP e que está trazendo para Indaiatuba profissionais da área de ciências humanas para ministrar cursos gratuitos de excelente qualidade. São mestres, doutorandos e doutores que em oficinas ministradas no Casarão e em locais específicos complementares - para estudo do meio - estão proporcionando acesso ao que está sendo produzido, discutido e indicado nas universidades.

Para a oficina de novembro, o tema será: Memória, História Oral e Patrimônio Cultural com a professora doutora Olga de Moraes Von Simson e a professora Doutoranda Lívia Lima. 

As vagas são limitadas e as inscrições podem ser feitas no site da Fundação - www.promemoria.indaiatuba.sp.gov.br, - ou por meio do telefone (19) 3875-8383.


Ementa: Compreender a importância dos estudos sobre a memória englobando as contribuições das muitas áreas disciplinares que se voltam à sua pesquisa e estudo, é de importância fundamental para a discussão da tríplice proposta que ora apresentamos juntando História Oral e Patrimônio (material e imaterial). 
A História Oral como método de pesquisa nos fornece a possibilidade de recolher, analisar e compreender a memória mais recente, a partir de diferentes membros de uma mesma sociedade.
Temas: discutir a Memória, História Oral e Patrimônio enfocados através das metodologias de pesquisa no campo das Ciências Humanas e Sociais. 
Ressaltar a contribuição da oralidade, associada à visualidade, através da coleta e análise de fotos históricas, que nos permitirão melhor compreender às questões voltadas ao patrimônio, seja ele material ou imaterial. 
Para desenvolver essa proposta faremos a escolha dos informantes a partir dos 40 anos de idade, cobrindo diferentes gêneros e escolhendo representantes de várias classes sociais.
“Também teremos atividade pratica e pedimos aos participantes da atividade que nos tragam fotos de sua infância e adolescência que serão fichadas e analisadas com orientação dos pesquisadores”, comenta o superintendente da Fundação,  o professor Doutor Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus, que em conjunto com o professor Doutor Marcos Tognon, da UNICAMP, são os "patronos" desse projeto, que vêm capacitando os educadores de Indaiatuba, trazendo benefícios imensuráveis para as áreas de História e Educação, mas também no que tange à ao patrimônio, memória, cultura e cidadania.


ESCOLAS DO PATRIMÔNIO


O programa implantado em junho do ano passado já atendeu mais 1.000 interessados entre educadores, profissionais liberais, servidores públicos e demais interessados. A Fundação Pró-Memória de Indaiatuba em parceria com o Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas, que por meio do projeto de extensão, busca atender a demanda da comunidade nas diversas áreas do saber relacionadas à história, memória, patrimônio histórico, cultural e ambiental. 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Lembranças do Randolfo e de Arnaldo

Por Edgard Steffen

“Esperança e Glória” (Hope and Glory) excelente filme do diretor John  Boormann, conta a história de uma família londrina durante a 2ª Grande Guerra Mundial, pela ótica de um menino de 9 a 10 anos. A ação ocorre em meio aos bombardeios de Londres e mostra as modificações  psico-sociais, a influência  da guerra  sobre o comportamento e os valores da família, as adaptações das pessoas ao dia a dia da conflagração, os bombardeios de Londres, as reações do menino, os brinquedos e brincadeiras em meio aos destroços e o fim antológico: a alegria das  crianças quando descobrem que sua escola havia sido destruída num  bombardeio. 

Para mim esse filme teve um sabor todo especial: o menino-personagem da história teria quase a mesma idade que eu tivera durante o conflito; levei a vantagem de estar a milhares de quilômetros daqueles acontecimentos e a mais parecida com o bombardeio que vivenciei foram os rojões e morteiros que escaparam sobre o telhado de nossa casa, no centro de Indaiatuba, São Paulo, quando o partido político a que meu pai pertencia perdeu a eleição de 1934. 

Se uma hipotética bomba (a imaginação de criança não tem limites...) caísse sobre o Grupo Escolar “Randolfo Moreira Fernandes”, eu e meus colegas certamente choraríamos em vez de ter a esfuziante alegria das crianças do filme.


          
O “Randolfo” era, para minha geração, o “Grupo Novo”. 



Recém inaugurado, pelos seus corredores e salas circulavam figuras emblemáticas como “seu” Eulálio Rosa Cruz (diretor), “seuCarlos Tanclér (porteiro) e as professoras como a terna Hosana, a  rígida Francisca (Yaiá) ao lado de Yolanda (minha irmã), Silvia, Áurea, Maria José (Zezé), Helena, Alice e outras esquecidas nos meandros de minha memória.

Exerciam, com dignidade, a missão de ensinar tanto letras, contas, geografia, história quanto cidadania. A todas se dedicava o respeito de chamá-las pelo prenome acrescido do título “professora” ou pelo popular (mas respeitoso) “Dona”. Jamais poderíamos imaginar que, um dia, professores viriam a ser tratadas pelo “Tia”. 

Esse qualificativo – aparentemente carinhoso – sem o prenome ou sobrenome, coloca-as na vala comum da impessoalidade, como vem acontecendo desde a década de 80. 

Explanado meu protesto contra a impessoalidade de tio, onde hoje é nome de escola estadual, esteve pouco tempo em Indaiatuba, porém graças à personalidade, à capacidade de impor disciplina aliada à didática eficiente, sua figura viria permanecer indelével na memória dos que foram seus alunos. 

Ex-jogador de futebol, carreira interrompida por lesão do menisco, não dava aulas de educação física; substituía- as por jogo de futebol, no campo do “Primavera”, localizado nas vizinhanças do grupo escolar

Com seus próprios recursos comprou uma bola oficial de couro - bola de “capotão” era objeto de desejo para quase 100% dos meninos que jogavam futebol na rua e tia...voltemos ao “Randolfo”.

Um jovem destacava-se no contexto: Professor Arnaldo Rossi. Vindo de Pedreira com bolas de meia ou de borracha – e formou um time completo. Todos participavam da aula de futebol e os mais craques eram escalados no time principal, também uniformizado pelo mestre Arnaldo. O ovo de Colombo para fazer aquele grupo de meninos (alguns retardatários já em plena puberdade), pouco afeitos ao estudo, interessarem-se pelas aulas de aritmética, linguagem, geografia e história, constituía-se em medida extremamente eficaz: o castigo para os preguiçosos e para os indisciplinados era não participar dos treinos e jogos. 

Fez milagres! 

Repetentes contumazes puderam participar da fotografia comemorativa da turma de 1941. 

A maioria dos formados  seguiu suas vidas sem que o futebol fosse parte principal de suas vidas. Alguns daqueles jogadores-mirim, Bebé (Abel Von Ah), Waldir (Bicanca), Sanã, entre outros, viriam fazer parte do glorioso E.C.Primavera e de outros clubes de futebol profissional. 

Laércio Milani, o grande goleiro do Palmeiras, do Santos e da Seleção Paulista provavelmente jogou no time do Randolfo, antes da Portuguesa Santista descobri-lo no “Primavera” e introduzi-lo no futebol profissional.

Para aqueles meninos e moços da turma de 1941, o professor futebolista era um ídolo. Num tempo em que as aulas de ginástica no curso primário mais pareciam brincadeiras de roda, coisa de meninas brincando nas ruas, aquele professor – alto, magro, elegante em seus ternos claros – ensinava a classe a se posicionar em campo, chutar de trivela, bater certo na pelota para aumentar a velocidade e aprimorar a direção da bola. 

Chegava a tirar seu paletó e mostrar, na prática, como se fazia. 

Lembro-me de um desses dias em que, entusiasmado, bateu bola mais vezes do  que a prudência recomendava; com fácies de dor, levantou a barra da calça para avaliação do estrago. Os alunos que estavam perto, puderam ver o inchaço que se formou naquele joelho que frustrara a carreira do futebolista (centeralfo, se não me trai a memória) para dar vez ao mestre dos alunos difíceis. 

[Mais de] Sessenta e três anos passados, sua memória continua viva, respeitada e reverenciada.

           
Modestamente, este é o objetivo desta crônica.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

ESCOLA DE AVIAÇÃO DE INDAIATUBA


Eliana Belo Silva

Coluna semanal "Identidade Indaiatubana" - Jornal exemplo de 16.10.2015



A "Escola de Aeronáutica de Indaiatuba" foi criada pela Lei Municipal no. 278 de  4/9/1951, pelo então prefeito Lauro Bueno de Camargo mas foi revogada logo no ano seguinte pelo prefeito Jacob Lyra.


Pelas fontes históricas que temos do período, podemos conjunturar que o prefeito Lauro autorizou a implantação da escola sob pressão de seu xará Lauro Magnusson, o mais célebre piloto amador destas bandas naquela época, mesmo não tendo sido este, proprietário se sua própria aeronave.


A escola tinha boas pretensões: formaria pilotos e mecânicos, para isso contando com uma parceria com certo ‘Comandante da Escola Santos Dumont’.



AEROCLUBE


Descrito por cronistas e memorialistas como tendo um temperamento inquieto, o piloto amador Lauro Magnusson cursou pilotagem em Itu e em Campinas e, junto com amigos de hobby,  havia organizado, já na década de 1940, o Aeroclube de Indaiatuba, que não era nada mais do que um descampado de terra batida servido por um alto armazém – solene e atrevidamente chamado de hangar - rodeado por quiosques, todos cobertos com folhas da palmeira indaiá. 


Essa arquitetura toda e os movimentos de decolagem e pouso aconteciam  nos arredores de onde hoje é a Casa de Repouso Indaiá, mais conhecida como Teiadão, naquele terreno arenoso, arredio, seco, onde essa palmeirinha dava como chuchu.



MAGNÍFICO CAMPO DE AVIAÇÃO


Além do hangar de 15m X 15 m coberto inicialmente apenas com sapé e a pista empoeirada que cegava as jovens damas de nossa cidade que iam por lá passear nos raros momentos de movimentos da aviação civil indaiatubana, o Campo de Aviação de Indaiatuba  tinha 750 metros de comprimento e 150 metros de largura. 


    O projeto havia sido aprovado pelo então prefeito Dr. Jácomo Nazário (aquele que foi médico no HAOC durante muitos anos, inclusive na época da inauguração, e que, em vários momentos, só havia ele), que alardeou que, entre outros projetos de melhoria na infraestrutura de nossa cidade, estava a instalação de um ‘magnífico’ campo de aviação para treinamento.


Consta que o campo tinha até um ‘guarda-campo’ (zelador) que morava na esquina da atual avenida Tamandaré com rua Adhemar de Barros.




CONDUTORES DE VEÍCULOS


Depois que o campo de aviação foi desativado e os pilotos amadores saíram de cena, foi a vez de condutores amadores tomarem o lugar: o descampado passou a ser usado por motoristas em treinamento. Os que estavam fazendo aulas em auto- escolas para obter a Carta de Habilitação iam lá, de maneira informal, conduzidos por familiares, para ‘guiar’.  (Bonito, né...)




CRESCIMENTO URBANO


Na década de 1960, com o hangar em ruínas, o prefeito Romeu Zerbini reservou aquela área para formar um Distrito Industrial. Os roncos dos aviõezinhos monomotores foram substituídos pelas máquinas e sirenes da Metalúrgia Puriar, Metalúrgica Ilma, Fieiras Sinterizadas Nacional (FSN), entre outras.


O hangar desapareceu de uma vez por todas e no seu lugar, no começo da década de 1970, com a dedicação e esforço do médico psiquiatra Paulo de Tarso Ubinha e do advogado Dr. Abel Francisco Vieira Job, foi inaugurada a Clínica de Repouso Indaiá, que até hoje possui a fachada original.


No ano de 2005 o nome da clínica passou a ser Instituto de Reabilitação e Prevenção em Saúde Indaiá. Em 18 de abril de 2008 o Dr. Abel, um dos fundadores da clínica, faleceu aos 74 anos. 





Instituto de Reabilitação e Prevenção em Saúde Indaiá (Teiadão)

Crédito da imagem: Revista Exemplo




Campo de Aviação de Indaiatuba

Crédito da imagem: Acervo da Fundação Pró-Memória



1947. Primeiro grupo de "brevetados" de Indaiatuba. 
Lauro Magnusson, Chiquinho Candello, Eduardo Linhares e outros. 
Acervo Art-Foto / Sergio Ueda.



Fonte: http://www.clubecav.com/2011/07/aerodromo-de-indaiatuba-1950



CARRO DE BOI

Texto de Henrique Ifanger
Do livro Fragmentos de Memórias que você pode ler completo aqui.



Em 1919, as famílias de João e José Amstalden compraram a fazenda Bela Vista, que era de propriedade do Sr. Guilherme Cotching, negócio de que meu pai foi intermediário. 

A compra foi negociada por cem contos de réis. 

A comissão rendeu dois contos de réis. Com esse dinheiro, ele comprou um carro de bois com oito bois amestrados, do Sr.Juca Balduíno, com todos os equipamentos necessários e em condições para trabalhar. 

O primeiro empregado que tinha prática em conduzir o carro de boi, chamava-se Franquito Canali; quando casou-se, foi substituído por seu irmão João Canali. 

Como este era muito violento com os bois, meu pai dispensou-o e, no lugar vago, meu irmão João Netto substituiu-o. 

Como Joãozinho conhecia os nomes dos bois e das vacas leiteiras que estavam no mesmo mangueirão cuidado pela Benedita, que tirava o leite, era só chamá-los que cada um ia chegando no seu lugar; depois era só levantar a canga no pescoço do boi, travar a brocha, prender a chifradeira em cada par, e estava pronto para o trabalho. 

O carro de boi era muito útil para o transporte pesado, como toras de madeira, lenha, cereais ensacados. 

Só que era muito lento, nem todos os dias podia trabalhar, pois tínhamos uma carroça com dois burros que fazia pequenos transportes e mais rápidos. 

O Joãozinho tinha que controlar os empregados, distribuir serviço para onde era mais necessário. Aos sábados, ele preparava a tarefa para todos. 

Concluído o trabalho, estavam livres; iam para casa com o pagamento semanal.

Fonte da imagem: onordeste.com



COMO ERA FEITO O CARRO DE BOI 

Quanto ao carro de boi vamos falar alguma coisa. 

Como era feito. 

O carro de boi era um veículo construído quase totalmente de madeira de boa qualidade, constituído por um par de rodas, fixado em um eixo, formando um grande carretel. 

Cada roda é formada por três pranchas inteiriças, primeiro juntadas com cavilhas e depois serradas com serra curva em forma circular. 

A madeira usada era geralmente a cabreúva. Era construída por carpinteiro bem prático, para juntar as três pranchas, que eram de dez centímetros de espessura. 

A junção das pranchas se faz por meio de duas cavilhas, unindo as duas laterais, chamadas cambotas, à do centro, que possui então quatro furos para a colocação das cavilhas. 

Estas medem 3x6 cm, e são bem ajustadas e batidas com uma marreta. A roda deve ter um metro e vinte centímetros de diâmetro. 

Com um compasso marca-se o rodigio e o centro. Com serra curva faz a circunferência e com a ferramenta chamada enchó desbasta-se a madeira para deixar, a partir dos dez centímetros da área central, uma espessura de cinco centímetros na periferia, correspondente à largura da ferragem. 

Os dois furos da roda, que medem 20 centímetros, na forma de um óculos, servem de degrau para subir até a mesa do carro e ajeitar a carga. 

Os furos das rodas não tem nada a ver com os cantos das mesmas. 

O canto só acontece com o movimento lento e o peso da carga. 

A pedido de meu pai fiz um eixo de carro - o outro foi gasto pelo uso - com uma tora de jacarandá, com dois metros de comprimento, lavrada em forma oitavada, acompanhando a peça anterior, com duas cavidades para girar o eixo da mesa.  

O encaixe da roda tem que ser bem ajustado e estar bem no esquadro para que as rodas girem alinhadas. 

Para comprovar com exatidão é só verificar o rastro que o carro deixa no chão. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O Chafariz (Reminiscências de Indaiatuba)

Há muitos anos, Indaiatuba tinha a Rua da Palha, atualmente Rua Pedro Gonçalves

Esse nome vem do tempo em que a colônia da Fazenda Pau Preto ficava em continuação do prédio da sede. As casas eram cobertas com sapé e havia muita palha espalhada. Aí começava a rua da pobreza....

Tais casas eram, na maioria, feitas de barrotes, e de pequena altura. Na esquina com a atual Bernardino de Campos ficava o caminho do chafariz, e lá embaixo estava a célebre biquinha de água potável.

Era esta a rua das lavadeiras e nela morava a melhor delas: Nhá Zabé Alemoa

No fim da rua, que era bem conservada pela Prefeitura, tinha o chafariz; era uma nascente em um poço bem fechado, do qual saía um cano que jorrava água na frente de uma parede, onde tinha uma escada de cada lado. 

A bica era alta do piso, o qual era feito de lajes e pedras assentadas, ficando assim um plano seco e limpo. Para aí vinham os carrinhos com latas para serem cheias de água. 

Embaixo da bica havia uma grelha de ferro, pela qual saía a água que corria por baixo das lajes, indo até um ribeirão de águas profundas e limpas, no qual as crianças nadavam e pescavam.


Crédito da imagem: Reminiscências de Indaiatuba
Antônio Zoppi


Ao lado do chafariz, a Prefeitura tinha construído um telheiro de esteios de madeira sextavada, coberto com telhado de quatro quedas d´água e tendo gradinhas em redor, cujo piso era de lajes, tendo canos por onde corria a água captada do brejo e com altura necessária para as lavadeiras colocarem as suas tinas e bacias de lavar roupas. 

Ali mesmo tinham seus varais de arame farpado, dos quais pendiam grandes quantidades de roupa pra secar.

Nessa rua, o movimento era intenso. 

Pela manhã, até às 10 horas, todos precisavam ir buscar água no chafariz, serviço feito pelas crianças. 

Havia carrinhos de uma, duas e até três latas, conforme o tamanho do rapaz que carregava. 

Era nisso que se ganhava um tostão por lata de água baldeada. 

Aquele que levava água para o Grupo Escolar ganhava mais que os outros.

Entre os rapazolas, havia os briguentos, que furavam a fila à frente da bica, tendo início então as brigas, onde quebravam carrinhos, amassavam latas e faziam os menores chorarem, quando então vinham as lavadeiras para separar os contendores. 

Fonte: "Reminiscências de Indaiatuba" de Antônio Zoppi.

Leia também: http://historiadeindaiatuba.blogspot.com.br/2015/04/o-rio-do-bicudo-buerao.html

Postagens mais visitadas na última semana