segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O irrequieto Lauro Magnusson

texto de Antonio da Cunha Penna*,
do livro "Nos Tempos do Bar Rex" (2010)

Nascido em 29 de março de 1916 na Fazenda Pedra Branca, município de Campinas, Lauro é filho de Frederico Magnusson e Ema Gazzi Magnusson, o último de uma prole de nove rebentos: Ida, Cândida, Alberto, Guilherme, Antonio, Mafalda, Mário e Cristiano.

Ainda pequeno, mudou-se para a Fazenda São Luís em Itu, onde numa escola rural alfabetizou-se. Em 1929 mudou-se para nosso município, mais precisamente para a Fazenda Cruz Alta.


            Por volta de 1931, aos 15 anos de idade resolveu experimentar a vida na cidade. Juntamente com seu irmão Mário comprou o Armazém Popular que ficava na Rua Candelária, esquina com Siqueira Campos. 

Tocaram esse comércio até por volta de 1937, quando morreu seu pai. Lauro, nessa altura com 21 anos, separa-se do irmão.

Perambulando pelos anos de 1940, seria sócio fundador do famoso Cine Rex, saindo da sociedade para inaugurar juntamente com Paulo Ifanger e Romário Capossolli a eletrônica Líder. No entardecer da década de 40 inventou o Bar Rex, mas entraria nos anos 50 como proprietário de olaria e comércio de beneficiamento de arroz.

Em 20 de março de 1954, casou-se com Duzolina Martini (Nelon). Da união nasceram os filhos: Silvana Magnusson (Artoni), Luís Lauro, Paulo César e André.

Quando Lauro ingressou como sócio-fundador do Rotary Club de Indaiatuba (1955) foi classificado como Curtume-Couro-Beneficiamento*, pois, nessa altura, nosso irrequieto homem de negócios já havia adquirido um na cidade de Salto. Ainda nessa época, vendeu o curtume e comprou da família Muller o que foi o primeiro mercado self-service de nossa cidade, o supermercado American, mais conhecido como Peg-Pag. Ficava na esquina da Rua 15 de Novembro com Siqueira Campos, onde anteriormente fora o Armazém do Pedrina. Nos anos de 1960 foi trabalhar com o sogro João Martini na Fazenda São João, no bairro Caldeira. Em sociedade com o cunhado Synesio Martini e o irmão Cristiano adquiriu uma fazenda em Catalão, estado de Goiás. A partir de 1990 passou a morar na chácara São João.

Livre, leve e solto

Lauro, a par de sua turbulenta vida profissional dava rédeas às habilidades esportivas. De 1940 a 1943 jogou no Esporte Clube Primavera, fazendo parte da famosa linha média: Olívio, Rei e Lauro.

Num jogo contra o Saltense teve um problema em um dos joelhos; tratou-se e ficou bom. Voltou a jogar, mas numa partida contra o Guarany de Campinas a contusão voltou, fazendo-o pendurar as chuteiras de vez.

Paralelamente à carreira esportiva, Lauro resolveu que seria piloto de avião, e foi. Fez curso de pilotagem em Itu e ficou sócio do Aeroclube. Terminaria o curso em Campinas.
Juntamente com um grupo de amigos inaugurou uma pista em Indaiatuba, onde hoje se encontra a Casa de Repouso Indaiá (mais conhecida como “Teiadão”). Contava com um hangar rústico e alguns quiosques cobertos de palmas de Indaiá. Esse pequeno campo deaviação improvisado nunca seria legalizado de vez. De certa forma serviu à cidade recebendo uma ou outra aterrissagem pelos anos 40/50.

Lauro se lembra de um dos (não muito raros) dias em que os rolos de filme para o cinema local se atrasavam, não chegando a tempo à cidade de Itu. De lá eram trazidos para Indaiatuba pelo ônibus do Achilles Brunetti. Num desses dias, para a cidade não ficar sem filme, Lauro convidou Carlos Cardoso para dar uma volta de avião. Tranquilos voaram até Itu e trouxeram o filme.

Em outra ocasião, ficou sabendo de uma festa aviatória que aconteceria na cidade de Rio Claro. Lá se foi nosso piloto em busca da possibilidade de levantar uma graninha fazendo voos panorâmicos. Aterrissagem feita, estacionou seu avião emprestado (na verdade nunca teve um) no lugar devido para, de repente, em meio a uma nuvem de poeira ver o aparelho ser abalroado por outro destrambelhado. Do sururu, restou-lhe uma avaria numa das asas. Nosso intrépido aviador arrumou uns pedaços de pano, remendou o estrago e, meio que de banda, levantou voo, vindo em deselegante revoada de Rio Claro a Campinas, onde deixou o aparelho para os devidos reparos. 

O dia em que Indaiatuba parou
  

            Se um joelho avariado ceifou de vez as pretensões futebolísticas de Lauro, o fato não arrefeceu sua paixão pelo futebol, especialmente pelo Primavera. De estatura mediana, atarracado era dono de especial simpatia, nada disso o impediu de resolver algumas contendas na base do esforço físico, especialmente enquanto defensor da honra de seu time do coração. Uma delas ocorrida em Capivari é de saudosa lembrança (para quem ganhou e bateu, é claro).

Segundo nosso mais que primaverino, o primaverista Hélio Milani, o Primavera no ano de 1949 disputava o Campeonato Regional Amador do Estado de São Paulo, ao lado dos E.C. 15 de Novembro, Monte Mor, Elias Fausto, Capivariano e Juventus de Capivari, R.C.A. de Rafard, Saltense e Guarani de Salto, Gazzola e Auto de Itu. 


Numa série disputadíssima, ficaram empatados nosso “Fantasma da Ituana” e Gazzola de Itu. Marcada a partida, foi sorteado o campo do Guarani saltense. O tira-teima, que terminou o primeiro tempo com o Primavera perdendo de 2 a 1, teria um surpreendente final com nosso glorioso esquadrão conquistando de virada um honroso 3 a 3. Hélio, dono de boa memória, assegura que o dia foi um domingo (2/10/1949).

A Federação marcou outro jogo três dias depois; cinco de outubro, quarta-feira às 15 horas. O cenário para o ansiado combate era cidade de Capivari, mais especificamente o campo do Capivariano.

Luís Teixeira de Camargo Jr. (Lita), então prefeito de nossa cidade, decretou ponto facultativo. O presidente da nossa principal agremiação era o dentista Adib Pedro, que numa união de forças arrebanhou de 30 a 40 caminhões repletos de fanáticos primaverinos, além de um trem acrescido de vagões extras com uma multidão de cerca de 3000 pessoas, salvo algum erro de cálculo. Nossa terra, que já era pacata, naquela inesquecível quarta-feira mais parecia uma cidade fantasma com todos os seus estabelecimentos comerciais e industriais fechados, ou melhor, quase todos: o Banco Mercantil abriu. Seu gerente, José Costa de Mesquita, não concordou com a mamata. Segundo Geiss, funcionário do banco na época, apenas um cliente entrou na agência naquele dia.

O Primavera entrou em campo para a espetacular contenda com os seguintes jogadores: Santo, Didi e Sanan, Didico, Valter e Wilson – Odoni, Bebé, Tuia, Gibi e Nego. O primeiro tempo terminou empatado, apesar do pênalti a nosso favor, batido por Tuia e defendido pelo lendário goleiro* “Mão-de-Onça”. Aos 17 minutos do segundo tempo, o relógio de Hélio Milani quebrou sob um violento murro de desabafo. O ponteiro parado no 17º tracinho assinalava o primeiro gol saído da chuteira do nosso pequeno grande Tuia e que daria o campeonato para o Primavera.

Num estádio entupido de exultantes indaiatubanos era natural que os ânimos se exaltassem, culminando com nosso pugilista de plantão, ex-craque e piloto de avião, Lauro, estranhando o palavreado indelicado de Chiquinho Gazzola, presidente do time derrotado. O esquentado Lauro deu-lhe um peteleco na orelha pra ele ver só o que era bom pra tosse. Claro que a partir daí foi um Deus nos acuda ou (conforme a indaiatubana expressão futebolística da época) um c. de boi na área do Saltense.

De volta à Indaiatuba, a frota de caminhões, ônibus e os três vagões de trem abarrotados foi saudada pelo resto da população que ficara. Padre Antônio Jannoni, que fora o presidente do Primavera até um ano antes, suspendeu a reza daquele início de noite e convocou os fiéis para descerem até a estação recepcionar nossa comitiva. Ao som da Corporação Musical, o glorioso esquadrão subiu a 15 de Novembro. As comemorações viraram a noite, concentrando-se no bar do Olívio Dercoli, Bar Central, tradicional reduto de veteranos e admiradores do Primavera.



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*Antonio da Cunha Penna lançou o novo livro na sexta p.p., no Indaiatuba Clube


Novo livro está à venda no Silva e Penna


O autor Antonio da Cunha Penna (sentado), que é Conselheiro Administrativo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e os demais membros do Conselho Consultivo: Gentil Gonçales Filho (à esquerda), Maria Maçako Inanishi, Denise Stein e eu, Eliana Belo. 
Atrás, o Conselheiro Cassio Sampaio, no dia do lançamento do livro.



O autor Antonio da Cunha Penna (sentado),  Gentil Gonçales Filho (à esquerda), Maria Maçako Inanishi, Denise Stein e eu, Eliana Belo.


Entrevista com Penna no programa Resenha da TV Sol:

Parte 1:
http://www.tvsolcomunidade.com.br/programa-resenha/0408-antonio-penna-bloco-01/

Parte 2:
http://www.tvsolcomunidade.com.br/programa-resenha/0408-antonio-penna-bloco-02/

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