segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Registro sobre velórios e sepultamentos de antigamente

texto de  Glória Dinorah Quinteiro Belo*

As pessoas geralmente faleciam em casa - não existia o que hoje se chama de "morte assistida" em hospitais - e os velórios eram realizados ali mesmo, na própria residência, onde o falecido era preparado pelos próprios parentes e solidários vizinhos. Não havia serviço funerário para esse fim.

Na mesa era acomodado o caixão, comprado em lojas do tipo "Secos & Molhados".

Era feita uma mortalha branca para as crianças e jovens, roxa ou preta para as senhoras e senhores, de tecido comprado na Loja do Nicolau ou na Loja Feres. Uma costureira era procurada rapidamente, para costurar em volta da mortalha uma renda.

O povo tomava conhecimento do falecimento e do sepultamento através de folhetos, que eram distribuídos geralmente por crianças em pontos importantes - que não eram muitos - na cidade inteira. Em pouto tempo todos já sabiam da morte, e todos conheciam o falecido, de uma maneira ou de outra. Era um conhecido próximo ou um conhecido de um conhecido próximo, isso quando não era um parente ou vizinho.

Vizinhos e parentes colhiam as flores do jardim de suas casas e levavam para enfeitar o caixão.

Durante o velório, era servido lanche para as pessoas que velavam o corpo, as vezes com café, as vezes com pinga ou os dois. Obviamente o excesso de bebida alcoólica gerava brigas e há fatos onde até o caixão entrou no empurra-empurra de quem se excedeu e caiu no chão. Quando não gerava violência, a bebida relaxava quem estava ali e as piadas também começavam.

Para levar o caixão até o cemitério não tinha carro funerário. Formava-se uma fila com as crianças na frente, com flores na mão, seguida pelas mulheres e depois pelos homens, que se revezavam em carregar o caixão até a Igreja Nossa Senhora da Candelária.

Quando o cortejo alí chegava, encontrava já pronto, no centro da igreja, uma mesa com candelabros com velas acesas, na cabeceira um pano bordado com a Santa Cruz. O padre então encomendava o corpo, benzia com água benta e realizava a ritual católico sempre da mesma forma, acompanhado com as preces dos acompanhantes.

Quando o caixão saia da Igreja, novamente forma-se o cortejo da mesma forma, para subir a Candelária para o cemitério de Taipa ou de Pedras. Esse momento era sempre muito triste, pois o cortejo era acompanhado pelo tocar do sino, que ecoava tristemente, acompanhando o silencioso enterro.

Todo o comércio ao longo da Rua Candelária fechava suas portas em respeito a memória do falecido e sua família e amigos.

Chegando ao cemitério, o caixão era novamente aberto e colocado em cavaletes específicos. As pessoas faziam longas filas para a última despedida. O caixão era, então, fechado e levado até o túmulo. Na época as carneiras não eram revestidas, enterrava-se em valas comuns de terra.

Todas as pessoas pegavam três montinhos de terras e jogavam na cova. Jogavam também as flores que levavam durante o caminho.

Após 7 dias, tinha a Missa de Sétimo Dia. Os parentes usavam luto fechado, ou seja, roupas, meias, sapatos, tudo preto, as vezes até por um ano. Na Igreja montava-se um caixão, com candelabros e velas acesas, relembrando o velório.

Após a missa, os parentes e amigos mais próximos iam até o local e o padre fazia o benzimento, com as pessoas ao redor quase sempre chorando muito a lembrança da perda.

Em seguida eram distribuídos aos presentes uma lembrança que tinha a foto da pessoa com a data do nascimento e a da morte, seguida de uma oração. Era muito comum que, por um tempo, os parentes mais próximos privarem-se de eventos, em sinal de luto.

Mandava-se rezar missa de 7 dias de falecimento, 1 mês, seis meses, 1 ano e assim por diante.

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* memórias referentes ás décadas de 1940 e 1950

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