terça-feira, 26 de julho de 2011

A antiga cadeia e câmara municipal de Indaiatuba

texto (parcial) de Sylvia Teixeira de Camargo Sannazzaro
do livro " O Tempo e a Gente" (1997)

especialmente ilustrado com imagem do arquiteto Charles Fernandes,
originalmente publicada no grupo virtual Dinossauros de Indaiá e gentilmente cedida.


(clique para ampliar)

Reafirmar a importância das transformações ocorridas em anos rolados não é mais necessário, desde que os dias correntes ficaram sendo os únicos responsáveis por modificações ocorridas.

O nosso Largo da Cadeia sofreu os seus efeitos, sendo hoje uma bonita praça arborizada, ostentando o nome de um brasileiro ilustre, Prudente de Moraes.

Porém, antes de ser tudo isso que é, era, o que não podia deixar de ser, um terreno cheio de mato, um pedaço do nosso campo agreste, onde as vacas leiteiras dos moradores da Vila iam pastar e lá pernoitavam para de madrugada, obedientemente tomarem o rumo dos estábulos, nos quintais de seus donos, que mantinham presos os bezerros até a hora da ordenha. Meu avô materno, Joaquim Galvão de França, era um deles.

Contavam que essas reses traziam um cincerro pendurado no pescoço para anunciar a sua presença ou a sua passagem por onde andassem, evitando, principalmente a noitinha, tropeços pelos caminhos, quando aí permaneciam deitadas pachorrentamente na escuridão, pois a Vila era iluminada com a luz mortiça dos lampiões de carbureto.

Até poucos anos atrás, alguns senhores octagenários de nossa cidade, como Júlio Nicolau, Luiz Teixeira de Camargo Júnior (Lita), lembravam-se que na infância passaram aí horas despreocupados e felizes, armando arapucas e alçapões e também caçando passarinho com visgo ou bodoque.

Esse lugar, tão próprio à recreação e ao contato com a natureza, teve um dia as suas árvores derrubadas, o seu mato capinado, para nele ser construído o prédio da Cadeia Pública.

Não existindo Prefeitura, mas somente Câmara Municipal, esta contratou a obra com Constantino Casabuona, que assinou o documento em 6 de agosto de 1888, pela importância de 4.740 contos de réis, divididos em 4 pagamentos.

No referido contrato era exigida a obediência às leis de higiene que obrigavam ser a construção provida de um porão de 0,80m de altura, 5 metros de pé direito, iluminação e ventilação abundantes, requisitos que foram cumpridos na íntegra.

Foi então edificado um prédio, razoavelmente grande, no estilo colonial, cuja base ocupava uma área quadrada (entre as ruas Candelária, 15 de Novembro, Cerqueira César e Bernardino de Campos), servindo para dupla finalidade: ser Cadeia e Câmara Municipal.

Trabalhou nessa construção o conhecido pedreiro David Dutra, que se gabava de ser um dos únicos pedreiros a assentar mil tijolos diários, daqueles grandalhões, de cansar a munheca, que valiam por três exemplares dos atuais. No assentamento das grades, com sua verbosidade e fala apressada, desafiava o tempo e a força contra a segurança do seu trabalho, o que foi comprovado na retirada das mesmas, por ocasião da demolição do prédio, sendo preciso um trator para removê-las.

Edificado no meio do pátio, o prédio ficava de certa maneira sobranceiro. A porta central da fachada, encimada no topo do patamar de uma escada de três lances, sendo dois laterais e um frontal, era suficientemente larga para franquear a entrada na cadeia, que fora instalada na ala esquerda e a Câmara Municipal, na direita, com entrada lateral independente.

Na parte exterior, contornando o largo, foram plantadas árvores ornamentais, sendo o restante chão batido e arenoso. os pés de magnólia exalavam o perfume das suas flores amarelas, e os carvalhos intercalados, com sua bonita folhagem, ofereciam as pencas de sementes envernizadas pela própria natureza, sendo os únicos enfeites do largo.

Os moleques colhiam as sementes e da parte côncova, superior, faziam assobios. Por muito tempo, foi esta a sua fisionomia. Lugar calmo, pois a própria Câmara Municipal permanecia de portas fechadas.

A chave do prédio ficava com o fiscal, Antônio Soares, porque o prefeito, Major Alfredo Camargo Fonseca, sendo fazendeiro no município, permanecia a maior parte do tempo na sua propriedade agrícola, vindo à cidade aos domingos.

A Câmara abria somente na época de recolher impostos. Anos mais tarde, mudando-se o prefeito para a cidade, a Câmara passou a abrir as portas das 12 às 14 horas.

Numa outra gestão municipal, em que o plantio de eucaliptos estava sendo incentivado, o prefeito em exercício fechou a parte traseira do largo com uma cerca de guaratãs e arame farpado, onde plantavam mudas dessas árvores.

Uma vez crescidas e formado o bosque, a cerca foi retirada, ficando ali, um lugar tranquilo e fresco, onde foram colocados bancos espalhados, debaixo do arvoredo, E aproveitando a atmosfera do ambiente, construíram um coreto, destinado às retretas domingueiras da banda.

(...)

Em 1963, quando era prefeito Odilon Ferreira, foi determinada a demolição do prédio, onde já funcionava somente a Câmara e a Prefeitura.

Dificuldades se opuseram a essa medida por ter sido outrora Delegacia de Polícia, podendo o prédio em questão pertencer ao governo do Estado e não ao município, mas o Cartório de Registro de Imóveis de Itu forneceu uma certidão, negando qualquer transcrição do referido imóvel, bem como da área pertencente a praça Prudente de Moraes.

Por decreto de 21 de novembro de 1938, o governo estadual havia doado à Prefeitura Municipal o prédio em questão.

Uma vez de posse dos direitos cabíveis e legais, foi demolido o antigo prédio, passando a Câmara e Prefeitura a funcionarem em caráter provisório num salão alugado pela família Dércole, quase na esquina da praça, que por muitos anos foi o único salão de dança da nossa cidade.

Aí permaneceram até ser construído o edifício atual, na esquina da praça com a rua 15 de Novembro.

Construído o Palácio Votura, transferiram a Câmara para lá, continuando a Prefeitura no mesmo local.

Desocupado o terreno com a demolição, foi então executado o serviço de ajardinamento com um bonito espelho d ´ água e uma fonte luminosa, sonora, pelo engenheiro agrônomo Sinésio Martini.

Antes, porém, da homologação, devia haver uma responsabilidade afetiva, pois é de se lamentar que uma área suficientemente grande não pudesse acolher até hoje aquele prédio antigo e ser respeitado o seu passado.

Embora acatemos as inovações, não podemos negar a evidência de que Indaiatuba perdeu mais uma das suas relíquias, que marcava uma era, que revelava um estilo, que patenteava sua história.

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