terça-feira, 31 de março de 2009

As Origens do Jardim Morada do Sol

texto de Eliana Belo Silva


Por volta do início do século XIX existia na região sul da cidade de Indaiatuba uma fazenda denominada Engenho D Água, pertencente à uma tradicional família indaiatubana, a família Barnabé.

Esta fazenda teve sua sede construída por volta de 1807, utilizando a técnica em construção em taipa de pilão, muito utilizada na época (mais precisamente em barro, com madeira e cipós entrelaçados, com largura aproximada de 64 a 72 cm). Mais tarde algumas de suas paredes foram construídas com tijolos.

A partir de 1970, estas terras começaram a ser loteadas. O primeiro bairro a surgir deste loteamento foi a CECAP, mais precisamente o Núcleo Habitacional Brigadeiro Faria Lima.

Mais tarde, em 1980, contrariando a orientação dada por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP, que em 1972 haviam pesquisado o nosso município, diagnosticando que

"a proximidade com o Distrito Industrial traria alguns problemas futuros para seus moradores, com a poluição, trazida pelos regime dos ventos, muito característicos daquela região"

o então prefeito Clain Ferrari aprovou através do Decreto Municipal no. 2081 de 19/03/1980 , o loteamento da região, denominado "Jardim Morada do Sol".

Ao longo da ocupação do loteamento, vieram muitos migrantes paranaenses, principalmente da cidade de Moreira Sales, desanimados com as condições em que lá viviam, condições estas, que se agravavam com a substituição das lavouras de café, milho e feijão, com as quais trabalhavam, por lavouras de amora, utilizada para a criação do bicho da seda, que passou a ocupar grande espaço da economia da região de Moreira Sales. Com isto muitas famílias acharam melhor mudar-se. Foi assim, então, que os paranaenses de Moreira Sales vieram para Indaiatuba, mas especificamente no Jardim Morada do Sol.

Pessoas de outras regiões do estado de São Paulo, e de outros estados e também de Indaiatuba também vieram morar neste bairro, atraídos pelo crescimento de indústrias que passaram a se instalar na cidade.

Como todo surto migratório, consequencias positivas e negativas foram decorrentes. Houve um aumento desordenado da população em curto espaço de tempo, ocasionando falta d´gua, falta de escolas, falta de empregos e crescimento da mão-de-obra não qualificada, o que ocasionou uma queda nos salários. Por outro lado, as pessoas se fundiram na cultura da cidade e se integraram ao restante da população.
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Fontes:
  • ALVES, Silvane R. L., ANTONIETTO, Luis Fernando B. Projeto: Rede de Ensino em Indaiatuba. Programa de Integração Arquivo-Escola. Fundação Pró-Memória de Indaiatuba. Indaiatuba (SP) 1996.
  • PAIVA, Celso Lago. História da Técnica das Construções Coloniais em São Paulo. Indaiatuba (SP). Fundação Pró-memória de Indaiatuba. 1996. 49p.;il.
  • STEIN, Fernando, Indaiatuba hoje, ontem e sempre. Indaiatuba (SP) 1980.
  • Jornal Diário Votura de 07/02/1986; 18/02 1995 e 25/02/1995.
Leia mais sobre taipa de pilão:
Leia mais sobre o Jardim Morada do Sol:
http://www.revistadatribuna.com.br/a_edicoes/revista_12_07/ruas.htm

quarta-feira, 25 de março de 2009

27 de março - Dia Mundial do Teatro e Dia Nacional do Circo


O mapa cuja cópia (modificada) é apresentada neste post é uma imagem originalmente contida no livro de Scyllas e Caio Sampaio (1), "Indaiatuba, sua história".

Segundo os autores, o perímetro urbano de nossa cidade em 1861 era o que está contido dentro da demarcação verde (ruas São José, Candelária, da Quitanda e das Flores), sendo que as outras quadras representam a totalização do perímetro urbano em 1880.

Dos logradouros identificados pelos autores, apenas a Igreja Matriz - e seu respectivo largo- ainda estão no mesmo lugar. Com base nessa referência, temos a grata surpresa de verificar que onde hoje há pontos comerciais na Rua XV de novembro era um TEATRO MUNICIPAL!

Nos idos de 1870 até as vésperas da proclamação da República, os então aqui residentes, dispunham para as reuniões sociais desse pequeno teatro construído de madeira, onde eram realizados os saraus dançantes, as tertúlias, e outras reuniões, inclusive algumas em que se declamavam poesias. Foi nesse teatro que se realizou também um baile comemorativo do término da Guerra do Paraguai.

O "Circo de Cavalinhos" também já era citado pelos autores como uma forma de lazer muito apreciada, inclusive por membros das "melhores famílias" que se acotovelavam nas arquibancadas, numa época em que não havia o luxo das cadeiras individuais.

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(1) SAMPAIO, Scyllas Leite e Caio da Costa Sampaio, Indaiatuba, sua história, 1998, Rumograf.

Indaiatuba na Revista Veja

Desde o início de 2009, a revista Veja, da Editora Abril, está disponibilizando todo o seu acervo na Internet. Todas as edições, desde a primeira, em 11 de setembro de 1968, poderão ser lidas e consultadas gratuitamente no site feito para abrigar o acervo digital, cujo link está abaixo:

Para maior comodidade dos leitores, o Acervo Digital segue a estrutura da própria revista, ou seja, o usuário navega na web como se estivesse folheando a publicação. O acervo apresenta as edições em ordem cronológica e conta com um avançado sistema de busca desenvolvido especialmente para Veja.

Este sistema permite cruzar informações e realizar filtros por período e editorias. Assim, basta o internauta digitar uma palavra-chave que automaticamente a ferramenta pesquisa em todos os textos da revista. É possível, ainda, navegar pelas capas, entrevistas, reportagens e anúncios publicitários, sempre visualizando a reprodução do material original.

Utilizando-se a ferramenta de busca, ao digitar INDAIATUBA, há vários retornos, como por exemplo, Diogo Mainardi (esse cara realmente existe? ou é um disfarce do saci-pererê?) tirando sarro do Mercadinho dos Sapatos, da Sorveteria San Remo e da Loja Pica Pau (atrevido!...). Aparecem cartas de vários moradores de nossa cidade, um página quase inteira sobre o tornado, comentários sobre a parte nobilíssima da zona rural (entenda-se zona de lazer) formada pelos vários haras, comentários sobre onde mora o Mansur, a CNBB de Itaici, uma casa de isopor do engenheiro José Maria Stifter, e outros...

Capa da edição número 1 da Revista VEJA

Resultado de 12 meses de intenso trabalho, o projeto foi desenvolvido por Veja em parceria com a Digital Pages, empresa responsável por estruturar a digitalização de cada uma das mais de 2 mil edições e convertê-las em revistas digitais. Dado o porte do projeto, uma equipe de 30 pessoas foi montada para cuidar desde o desgrampeamento das edições impressas até a publicação dos quase nove milhões de arquivos que compõem o acervo.

De INDAIATUBA tem muito pouco, mas a ferramenta é um excelente recurso para pesquisas, principalmente em outras épocas, quando a linha editorial da revista Veja não era praticamente a mesma coisa que a do Fantástico e realmente analisava criticamente os fatos cotidianos, fazendo um jornalismo tão sério que muita influência teve no episódio (e em outros) dos cara-pintadas que derrubou o presidente Collor (aquele mesmo, amiguinho do PC Farias e que dava nome ao nosso Parque Ecológico), após publicar entrevista com o irmão dele, Pedro Collor.
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Dica de Túlio José Tomáss do Couto, por e-mail

segunda-feira, 23 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

Patrimônio & Memória Ferroviária

 Eliana Belo Silva

Novembro/2008


Novamente estamos diante de um descaso – para não dizer violento assalto – ao patrimônio histórico e a memória, desta vez ferroviário, que está virando sucata, segundo a polícia federal, por culpa da empresa América Latina Logística (ALL), que possui a concessão de uso da malha ferroviária após o triste fim de organizações públicas como a FEPASA. O negócio está rendendo milhões e já foram comprovadamente sucateados mais de 3 mil vagões, trilhos, e outros materiais rodantes ou não da antiga malha ferroviária.

Há muitos aspectos indecorosos na história: a cara de pau da ALL, a quadrilha formada pelo comércio de sucata (ferro-velho), a lentidão da polícia federal, que já está investigando o caso há muito tempo. Mas o que mais me entristece é o descaso da maioria da população, que por simples ignorância fica à margem dessa afronta sem ao menos entender que isso é um assalto também à sua memória, a sua identidade, ao seu passado, ao seu futuro.

Sim, porque o patrimônio ferroviário também faz parte da nossa História! Mas muitas ações inversas, mesmo que pontuais, acontecem e devem ser registradas e valorizadas. Temos que ter a habilidade de ver “o outro lado” dos fatos históricos e não ficarmos apenas com aquela sensação de derrota, de vazio. Muito pelo contrário: olharmos o que está sendo feito de bom para a conservação desse patrimônio é uma forma de resistência, é uma forma de exercer nossa cidadania e, de quebra, fazermos um turismo cultural e divertido, principalmente para a criançada de férias.

O nosso museu ferroviário aqui em Indaiatuba é um ótimo exemplo. Lá está a lindinha, cuidadosamente conservada, a locomotiva número 10 da extinta (snif) Companhia Sorocabana! E antes de ser a número “dez” ela foi mais majestosa ainda, ela foi nada mais nada menos do que a número 1 da também extinta (buááá) Ytuana. Além da locomotiva, no local há fotos, objetos e documentos que contam não só a história da ferrovia na região, mas a sua história. Sim, é a minha, a sua, a nossa história que está lá e enquanto tivermos a visão míope que não fazemos parte dela, outras “ALL”, ávidas por sugar o valor financeiro - que é mínimo diante do valor cultural e histórico desse patrimônio - estarão vampiristicamente à espreita.

Outra iniciativa recente em prol a nossa identidade e ao patrimônio ferroviário foi um projeto conjunto entre a Secretaria dos Transportes Metropolitanos e a Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo de São Paulo: a instalação de um trem turístico que vai da Estação da Luz até Jundiaí, com um roteiro que inclui, após o desembarque nesta cidade, uma visita a alguns pontos turísticos do Circuito das Frutas.

Também uma ótima opção de lazer, principalmente para a criançada que nunca andou de trem (ôba)! O caminho trilhado vai usar a malha da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e segundo Ayrton Camargo e Silva, gerente de planejamento de transporte da CPTM o mais importante é que o “expresso vai criar uma ligação inesquecível entre história, cultura e diversão”. 


Imagem da composição do Expresso Turístico, do fotógrafo Jair Pires,

cedida por Ayrton Camargo e Silva da CPTM.




sexta-feira, 20 de março de 2009

O SAAE e o Dia Mundial da Água

  1. A água é um recurso renovável ou não-renovável? Se renovável, por que tanto alarde? Se não-renovável, significa que, se é a mesma a quantidade de água desde que o mundo é mundo, pode ser – portanto - que uma gota do xixi do faraó Menés (quase 3000 a.C) pode estar contida no copo de água que eu bebi em jejum hoje de manhã para emagrecer (ô ilusão!)?
  2. A água é inorodora, incolor e insípida! Isso é verdade ou lenda urbana? Afinal, alguém já bebeu uma água sem gosto e sem cheiro?
  3. Porque é que eu, pagadora assídua e pontual dos meus impostos, tenho que deixar de lavar minha calçada com a mangueira servindo de “vassoura hidráulica” se é do poder público a responsabilidade pela captação e tratamento da água?
  4. Chegará o dia em que a humanidade achará um ponto de equilíbrio entre a necessidade de crescimento econômico e a contraditória necessidade de contenção do uso dos recursos hídricos?
Utilizo inicialmente essas perguntas esquisitas que até parecem caricaturas desenhadas com letras, para louvar o SAAE de Indaiatuba por mais uma ação de educação ambiental, e porque não dizer histórica (ôba!), publicando o folheto com informações sobre o Córrego do Barnabé.

O folheto faz parte do conjunto de ações do SAAE em alusão ao Dia Mundial da Água, 23 de março. Educar e conscientizar sobre o que é a água e seu uso correto neste início do século XXI é um desafio enorme e inadiável, basta ver o incômodo que as perguntas acima (ou melhor, as respostas) causam em todos nós.


E neste sentido o SAAE já havia lançado outros encartes, entre eles um livrinho muito legal, denominado “A Nascente do Córrego Municipal”, com pesquisa feita e apresentada por Adriana Carvalho Koyama (1), em texto claro, enriquecido com imagens preciosíssimas, que foram desde desenhos do pesquisador Nilson Cardoso de Carvalho até fotos históricas de torneiras públicas e mapas da primeira obra de engenharia sanitária de Indaiatuba.

Mas essa publicação sobre o Córrego do Barnabé é inovadora, pois pode trazer mais subsídios para esclarecer o real significado sobre a famosa e enigmática palavra “Votura”. Até a publicação do encarte, o Córrego do Barnabé era(?) aquele que atravessava o Parque Ecológico, aquele mesmo... que era estreitinho e ficou grandão com a urbanização do seu entorno e tinha sua nascente perto de onde é o Corpo de Bombeiros. Mas com novas pesquisas feitas pelo SAAE e considerando critérios corretos para se definir onde exatamente está a nascente do córrego que leva o nome de tradicional família indaiatubana, descobriu-se que... (tcham, tcham, tcham, tchaaaammmm) o Córrego do Barnabé não é bem aquilo que pensávamos! Ou pelo menos não nasce onde quase todo mundo achava que nascia!

Na verdade... ele é o tal "Ribeirão Votura", ou seja é o mesmo que aparece em várias referências sobre o "início" de Indaiatuba, com a nascente no Bairro do Mato Dentro.

Para saber mais... veja o encarte, que mostra claramente onde ele nasce - na Lagoa Preta no Bairro Mato Dentro - até onde deságua em sua foz no Rio Jundiaí, no Bairro do Caldeira.
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Para saber mais:
(1) KOYAMA, Adriana Carvalho. A Nascente do Córrego Barnabé, publicação do SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgotos e Prefeitura Municipal de Indaiatuba, sem data. (2) http://conversadebotequimonline.blogspot.com/2009/03/o-corrrego-que-nao-era.html (3) http://www.saae.sp.gov.br/

Nota 1:
Outra ação do SAAE foi aparesentar (ontem, entre 9:00 e 10:30) o seu Laboratório Móvel de Análises, mais uma ação digna de parabenização por parte da população. Agora está faltando mesmo é dar garantia da gestão e da qualidade dos resultados do seu laboratório com a obtenção da certificação NBR ISO IEC 17025. Com certeza a população dormirá, ou melhor, beberá mais tranquila após esta acreditação do INMETRO. Pelas ações vistas até agora do Alexandre Peres e da sua equipe, creio que não vai demorar. Aguardemos.

Nota 2: (acrescentada em 22 de abril de 2009).
Abaixo, cópia da carta que eu recebi do SAAE sobre a impressão do folheto sobre o Córrego do Barnabé.

Um ano sem Aydil - a primeira voz feminina da Rádio Jornal

Revisão 01 em 06 de abril de 2010 (*)

Aydil Pinesi Bonachela nasceu em Indaiatuba no dia 3 de julho de 1936 e faleceu há um (1) ano, exatamente no dia 20 de março de 2008, logo após chegar na sede da Rádio Jornal de Indaiatuba, onde trabalhou como radialista por 26 anos.

Comunicadora reconhecidamente polêmica por não ter "papas na língua", teve também uma forte atuação em vários projetos sociais, demonstrando um várias ocasiões, ou melhor, demonstrando continuamente, o quanto o seu coração era solidário, moldado, segundo muitos, por sofridas perdas, principalmente pela da filha Andréa Maria Bonachela, que precocemente faleceu com apenas 17 anos em um trágico acidente que comoveu toda a cidade, em 1983.

Em um de seus reconhecidos trabalhos filantrópicos, comandou a Casa do Caminho por mais de 17 anos. Aydil era filha de imigrantes italianos e deixou o filho Mauro Tarcísio Bonachela e dois netinhos, Geórgio e Henrico.

Abaixo, um registro de Aydil: um depoimento feito para a TV SOL (que saudades também da TV SOL...) em pról à doação de órgãos, para a ONG Gabriel (http://www.gabriel.org.br/)


Veja também:

O texto abaixo foi publicado na Tribuna de Indaiá da edição de 6 de abril de 2010.  É o depoimento de um jovem que foi cuidado na "Casa do Caminho" na década de 1990:



(*) a revisão deste post foi a inserção do depoimento (recorte da Tribuna de Indaiá de 6 de abril de 2010)


segunda-feira, 16 de março de 2009

Música de Raiz (2)

HOMENAGEM A INDAIATUBA

Félix e Oswaldinho

GRAVADO PELO TRIO “OS TROVADORES DO SERTÃO”

Em homenagem a Indaiatuba
É imensa a nossa satisfação
 Desta cidade querida
Que é orgulho da nossa nação
É com prazer que vamos homenageando
O que sentimos em nossos corações
Somos alegres e vivemos felizes
Sempre conseguimos paz e união.
Indaiatuba quando amanhece
Os passarinhos cantam em harmonia
Logo se ouve o sino da Matriz
Anunciando Ave Maria
Os trabalhadores vão se levantando
Para ganhar seu pão de cada dia
São os deveres de todos os brasileiros
Sempre trabalhado mostrando alegria.
Indaiatuba tem lindas belezas
Com suas ruas e árvores floridas
No seu jardim tem o cheiro de rosas
É fonte luminosa toda colorida
É um orgulho aos indaiatubanos
Sendo esta homenagem muito merecida
É um lindo cartão de visita
Para os visitantes lembrar toda vida.
Ó Indaiatuba querida se um dia
Nós partiremos para eternidade
Nós deixaremos como lembrança
Todas as nossas sinceras amizades
Oferecidas pelo trovadores
Prestando homenagem a querida cidade
Nossa Padroeira abençoai este povo
E não deixe nunca haver contrariedade.

quinta-feira, 12 de março de 2009

O trânsito em 1919

Trole perto da Estação Ferroviária da Helvetia no início do século XX


O trânsito está insuportável e não é necessário andar muitos quilômetros para sofrer ou simplesmente ver alguma manobra para lá de abusiva para que já dispare na gente um estado de irritação, aflição ou perplexidade. As ruas ficaram estreitas demais para suportar a demanda advinda de linhas de crédito que permitiram a muitos comprarem seu carro novo para pagar em 6 (seis!!!!!!) anos. E as motos? Quem ganha um salário mínimo já compra uma e ainda sobra mais da metade do salário. E essa facilidade faz com que a avenida Ário Barnabé seja transitada apenas por aqueles que, corajosa ou ingenuamente se atrevem a tentar passar por ela sem ver um motoqueiro estatelado no chão, rodeado pela população curiosa que se acotovela a espiar nossos valorosos bombeiros. Não é minha intenção desdenhar dos portadores dos carnês, não é isso! Esse desabafo pode parecer elitista, eu sei, mas sou também uma portadora desse débito e meu foco é falar sobre o caos, ou melhor, sobre o trânsito.

Creio que os especialistas da prefeitura tentam tecnicamente fazer o possível, sempre sob os protestos ou deboche da população, mas... que consegue organizar o inadministrável?

Mas lendo um documento que o “seo” Geiss me deu, sobre uma tentativa de regulamentação dos veículos em Indaiatuba feito em 1919, vejo que os problemas referentes ao tráfego já estavam presente naquela época! Tá certo que a quase cem anos atrás a tentativa era ordenar o tráfego de veículos basicamente puxados por burros, cavalos, jumentos e até bois, mas podemos concluir que o assunto causava problemas também, uma vez que esse documento que comento, foi assinado pelo delegado de polícia e seu escrivão, pelo prefeito e seu secretário, ou seja: praticamente todas as autoridades da época estavam envolvidas na concessão da tal habilitação.

Trata-se, mais especificamente , de uma carta de concessão para um carroceiro, autorizando-o a trafegar vehiculos após prestar um exame. Foi concedida a Rodrigo Antonio, 40 anos, filho de João Antonio, brasileiro, casado, residente em Indaiatuba numa fazenda cujo nome é ilegível. Sendo essa “carta” emitida pela Prefeitura Municipal de Indaiatuba, o qualificado deveria passar a agir de acordo com o Regulamento de Vehiculos em vigor em nossa gloriosa cidade, feito em 2 de março de 1919, que dá uma noção sobre as regras de “trânsito” da época, as disposições e as penalidades. Vejamos.

A lei alertava para que todos os vehiculos fossem “conduzidos ou guiados de modo a dar sempre o lado esquerdo aos que transitam pela mesma rua ou caminho, em sentido opposto”. Isso organizava o vai-e-vem do movimento nas não mais do que dez ruas de Indaiatuba. A noite todos os condutores deveriam “trazer lanternas accesas” e menores de 16 anos não podiam “ ser admitidos como conductores de vehículos, quer sejam automóveis, quer sejam de tracção animal.”

Como hoje, naquela época também os condutores tinham obrigações controladas sob penas de multa. Não podiam carregar veículos com “peso superior a sua lotação e não castigar os animaes de modo impropriado” (?) ou "bárbaro". Os cocheiros não podiam sentar nem transportar ninguém nos varais das carroças, que deveriam ter, portanto, “competente boléa, tendo os animais os arreios apropriados, com thesoura e ponta de guias”.

Já os condutores de automóveis (onde estariam?) deveriam diminuir a marcha “nas proximidades das esquinas” e também “fazer usar os apparelhos de aviso” quando encontrassem outros veículos ou quando houvesse “aglomeração de pessoas”. Condutores de veículos que qualquer tipo eram responsáveis “pelos volumes ou mercadorias" que conduzissem e não podiam "fornecer seus vehiculos para a prática de crimes ou para qualquer acto prohibido ou reprovado”. Todas essas prescrições, quando infringidas, eram passíveis de uma multa de 30$000 e “em dobro nas reincidencias.”

Os acordos entre os cavalheiros da época, tanto contratante como contratado, tinha que ser cumprido, sob pena de multa também: “o conductor de vehiculos que deixar de comparecer no logar e hora marcada quando haja sido contratado, pagará multa de 20$000” e por sua vez, “o passageiro que não queira utilizar-se do vehiculo contratado ou que não seja encontrado no logar e hora designadas, será obrigado a pagar a importancia devida".

As tentativas de fazer valer toda essa regulamentação já causava, na época, atos insubordinados da população, que de uma forma ou de outra contestava ou não respeitava as regras. Podemos concluir isso com o conteúdo do 13º. artigo: “todo conductor de vehiculos, que de quaquer forma desobedecer e maltratar agentes encarregados das disposições deste regulamento, poderá ser preso por três dias, além do pagamento de multa em que haja incorrido".
Hoje em dia uma das preocupações dos agentes que trabalham na regulamentação do trânsito refere-se à utilização de capacetes. Em nossa Indaiatuba antiga, preocupação semelhante também existia, uma vem que o adendo da lei dizia que “os conductores de automóveis, quando em serviço, deverão estar decentemente vestidos”.

Ao fazer essa pequena comparação com o trânsito de nossa antiga Indaiatuba e o de atualmente, salta aos nossos olhos a necessidade de se fazer valer com eficácia tanto o Código Brasileiro de Trânsito(CTB), como a Política Nacional de Trânsito. As duas referências prevêem que o tema "Educação para o Trânsito" seja tratado na educação básica. Louvados sejam os projetos neste sentido, não só para que a mobilidade urbana seja viável, mas para - e sobretudo- preservar vidas que ainda não foram ceifadas brutalmente em um acidente ocorrido nesse caos.



(clique para ampliar)
Permissão Especial concedida para Romeu Bernardinetti
Imagem cedida por Cidália Bernardinetti,
originalmente disponibilizada no grupo virtual "Dinossauros de Indaiá"
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1- Se você tem imagens, dados ou informações sobre o tema e quer compartilhar, escreva para elianabelo@terra.com.br
2- Fonte: cópia de Carta concedida pela Prefeitura Municipal de Indaiatuba para Rodrigo Antonio em 25 de agosto de 1924, doada por Antonio Reginaldo Geiss para Eliana Belo Silva.
FROTA DE INDAIATUBA DOBRA NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS

DADOS DO DEMUTRAN (DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE TRÂNSITO) MOSTRAM QUE EM 31 DE DEZEMBRO DE 2000, A FROTA DA CIDADE ERA DE 59.124. O NÚMERO SOFREU UM SALTO DE 107,9% AGORA EM 2010. EM 20 DE JULHO HAVIA O REGISTRO DE 122.915 VEÍCULOS. ENQUANTO ISSO, O CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO REPRESENTOU 25%. EM 2000 O IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA) REGISTROU UMA POPULAÇÃO DE 147.050, ENQUANTO A ESTIMATIVA DO ÓRGÃO PARA 2009 ATINGE OS 183.803. LEVANDO EM CONTA A COMPARAÇÃO DO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2010 COM 2009, O DENATRAN (DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO) APONTA QUE HOUVE UM CRESCIMENTO DE 9,7% NA FROTA. OS 106.300 DO ANO PASSADO CHEGARAM A 116.600 ESTE ANO NO PERÍODO. SOMANDO TODAS AS CIDADES DA RMC (REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS) O AUMENTO FOI DE 7,1% E PASSOU DE 1,4 MILHÃO PARA 1,5 MILHÃO. OU SEJA, 100 MIL VEÍCULOS A MAIS. MESMO ASSIM, O CRESCIMENTO DA REGIÃO É MENOR DO QUE O DE INDAIATUBA.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Dica de Leitura (1): MALUNGO - Identidade entre os Cativos





"Meu interesse pelo tema "escravidão" se prende, de um lado,
a uma grande paixão pela História do Brasil, principalmente os períodos colonial e imperial e,
de outro lado, aos vínculos de família:
sendo negro, sempre estive atento a tudo que dissesse respeito à África e,
como se isso não bastasse,
fui criado no seio de uma família
que não deixou morrer a história de nossos antepassados."






É assim que o professor de História Aparecido Messias Paula Leite de Barros, o Cido, refere-se ao seu livro Malungo- Identidade entre os Cativos, uma publicação conjunta entre a Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e a Secretaria Municipal de Educação de Indaiatuba, feita em 2000.

Trata-se de um livro com 55 páginas, totalmente ilustrado por Marco Antônio Zanoti, aluno do professor Cido na ocasião da preparação dos originais.

O texto foi elaborado, basicamente, com relatos orais passados de geração para geração na família de Cido e conta a história de duas escravas que viveram em Indaiatuba: Felícia e Clemência, que estão na capa do livro postada acima.

Para educadores que irão trabalhar o tema neste ano letivo, o livro pode ser uma referência para ligar a micro-história de Indaiatuba com a macro-história da Escravidão no Brasil .

Usando uma referência de nossa cidade nas aulas, não se perde nossa história do todo, lembrando sempre aos estudantes que também estivemos inseridos nesse período da História do Brasil, não sendo uma cidade desprovida de vínculos.




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1) Poucos textos temos sobre a escravidão em Indaiatuba, mas se você quer saber mais, leia também o texto do pesquisador Nilson Cardoso de Carvalho, "Escravos e Escravidão em Indaiatuba" postado no site da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, no link abaixo:

quinta-feira, 5 de março de 2009

Comércio - Globalização & Sumerbol

Eliana Belo Silva
Neste início do século XXI, temos visto uma transformação profunda no comércio de Indaiatuba.
Muitas casas de comércio tradicionais de nossa cidade fecharam suas portas.

Foram vários os motivos conjunturais, mas estruturalmente podemos afirmar que essa mudança adveio da globalização. Grandes corporações empresariais, e até sistemas de produção de países como os tigres asiáticos - principalmente a China - engoliram negócios menores no mundo todo, fazendo desaparecer pequenos e médios negócios familiares, onde a qualidade era garantida pela proximidade que seus proprietários tinham com seus clientes - todos cidadãos, amigos, sócios do mesmo clube, frequentadores do mesmo grupo religioso, compadres...
Aquela pequena farmácia em que o dono conhecia até nossos avós e perguntavam se a pressão deles estava boa, fechou.

Aquela loja de eletrodomésticos e brinquedos da esquina do centro, tão tradicional, foi substituída por outras, que vendem artigos chineses a 1,99.

As pequenas vendas e quitandas, onde se marcava o débito em uma caderneta para se pagar Deus sabia quando, e que tinha aqueles doces no baleiro e aquela salsicha ma-ra-vi-lho-sa no vinagre que nunca era trocado, cadê? Fecharam também e foram substituídas por grandes redes de supermercado que só aceitam seu cheque se você disser até o nome no navio que sua bisavó migrou para o Brasil.
Mas na contra-mão dessa realidade, alguns comércios sobreviveram e até cresceram nesse cenário de adversidade. É o caso do Sumerbol, que nasceu na época em que a grande rede Supertuba dominava esse nicho em Indaiatuba e região, cresceu e está aí, florescendo fortemente no meio de grandes corporações do ramo, como o Carrefour e Pão de Açúcar.

A imagem pode conter: céu, nuvem e atividades ao ar livre
Supermercados SUPERTUBA



Acompanhe sua história, através dos registros fotográficos comentados a seguir:


O Sumerbol teve início em 1970 quando o casal Juvenal e Júlia Bordenalli,
abriu um pequeno armazém, em um salão alugado com 28m2, no bairro Cidade Nova,
que na época ainda tinha muitas ruas de terra e terrenos tomados por matagais.
O filho Valdemar trabalhava com os pais, e a pequena venda oferecia um serviço diferenciado (!),
que era entregar gás. Entregava com uma bicicleta... mas entregava!
Primeira venda do casal Bordenalli, em 1970

Aos poucos, os proprietários foram comprando terrenos circunvizinhos e após 4 anos,
o então "Armazém Bordenalli" já era um mini-mercado e já estava instalado em um espaço maior com 78m2, no mesmo endereço.

Armazém Bordenalli em 1974

Em 1977, após 7 anos de funcionamento, o Armazém do "seo" Juvenal
passou a ser um supermercado, e recebeu o nome de SUMERBOL.

Vista Externa do primeiro SUMERBOL em 1977

Vista Interna do SUMERBOL em 1977 Em 1982, com a aquisição de novos terrenos da mesma vizinhança,
o supermercado já havia crescido e estava instalado em 500 m2.

Vista Externa em 1982 Vista Interna em 1982

Em 1986 o supermecado da Cidade Nova foi reformado e ampliado e
uma nova unidade foi construída e inaugurada no Jardim Morada do Sol.


Loja 1 modernizada em 1986 Construção da Loja 2 no Jardim Morada do Sol Loja 2 - Construção pronta em 1986 no Jardim Morada do Sol

No ano 2000 a loja 1 passou por uma reforma estrutural e passou a tomar o quarteirão todo.
O sistema de atendimento foi automatizado, assim como o sistema de refrigeração, que possui um sistema de calibração da temperatura controlado on-line.

Agora em 2008, as duas lojas ocupavam uma área de 10.000m2 onde atualmente trabalham 350 funcionários diretos e cerca de 2000 indiretos.

É uma empresa cujo capital é 100% local.


Vista Aérea da Loja 1 em 2008

Vista Externa da Loja 1 em 2008 Fachada externa na Loja 2 em 2008

Vista Aérea da Loja 2 em 2008


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Texto de Acrísio de Camargo

Acrísio de Camargo é o autor da letra do Hino de Indaiatuba, cuja melodia foi composta pelo ilustre indaiatubano maestro Nabor Pires Camargo. O hino foi composto à pedido do major Alfredo Camargo da Fonseca, prefeito de Indaiatuba na ocasião em que foi comemorado o 1o. centenário de Elevação de Indaiatuba à Freguesia.
Na ocasião da festa, mais precisamente no dia 9 de dezembro de 1930, Acrísio de Camargo publicou o texto cujo conteúdo está copiado abaixo, no jornal "A Gazeta do Povo". Em seu texto Acrísio demonstra o mesmo estilo poético presente no hino. Vejamos.
INDAIATUBA
Acrísio de Camargo
Chegou finalmente o dia esplêndido em que Indaiatuba festeja condignamente o primeiro centenário de sua fundação.
A julgar pela sua encantadora topografia, como não seria linda já, naquele tempo de infância em que ela se resumia num punhadosinho de casas originais, obedecendo, naturalmente, os ditamos de uma interessante arquitetura primitiva!
Seria como um lençol, branco e pequeno, bordado de casas pequeninas, estendido, encantadoramente, por sobre um planalto magnífico, extenso e admirável. Ainda hoje assim se nos apresenta, quando a vemos de longe, com seus casario branco e maior, muito maior que naquele tempo...
E não é só o lençol alvo e bordado que a embeleza tomando a extensão sublime do planalto; além disso, para complemento maravilhoso do cenário luxento de sua natureza, as fumaças brancas de suas fábricas costumam tecer no espaço azulino, rendas clara e ondulantes!
Suas campinas verdes e enormes, para encanto dos olhos e do paladar produzem flores raríssimas e frutos saborosos!
A máquina do progresso, na ânsia incontida da de modernizar-lhe o aspecto, cortou-lhe grande porção de suas árvores frutíferas, mas ainda assim, ficaram muitas delas atestando, graças a Deus, a sinceridade destas palavras...
Indaiatuba! Não se pode escrever sobre ela sem por os olhos do pensamento no passado...
Pensando em sua infância vem-me, naturalmente, as saudades da minha e tenho a grata satisfação de me transportar aquela época distante, em que a vida me sorria com seus olhos verdes a grandes promessas... E me lembro de tudo, como se fosse agora! Nada me escapou da memória feliz... O meu tempo de escola em que o professor, severo e rancoroso, não sabia ensinar com amor; (até o mestre de música, dos tempos idos, obrigava o aluno a solfejar chorando...). As fazendas onde vivi por algum tempo: Capitão Josias, Morro Torto, Bela Vista... Desta última quanta recordação!... O curro enorme de taipa... As reinações próprias da idade... Tudo engraçado, tudo inocente!
E na vila nosso maior suplício e divertimento: o chafariz... os célebres carrinhos de mão que ainda existem... nosso grupo, respeitado, vinha em descanso, num só arranco, lá de baixo até em cima... E que água! Naquele tempo, quando a transportava, eu a achava pesado e hoje, quando a tomo, acho-a tão leve!
Saudades... recordações... é sempre triste a lembrança de um passado alegre... e hoje não é dia de tristezas.
Indaiatuba! Berço sagrado, gentil e imaculado que me embalou nos primeiros tempos de vida!
Eu te saudo, daqui do meu cantinho, de distante, como o filho saudoso longe de seu lar! Hoje é o dia dos teus anos eu te envio, por intermédio desta tua querida filha hebdomadária, um grande e sincero abraço de saudade oportuno, necessário como este ponto final.

terça-feira, 3 de março de 2009

Moda de Viola: CIDADE DE INDAIATUBA


CIDADE DE INDAIATUBA
Campeiro e Campeirinho



Eu faço agora minha homenagem
A uma cidade que eu tanto adoro
Tem muita riqueza e um povo humilde
E um grande progresso tão satisfatório
Tem lindas fazendas e moças bonitas
Cidade encantada por isso que falo
Entre os fazendeiros tenho um grande amigo
Colega estimado, seu nome é Paulo
Cidade que eu digo é Indaiatuba
Deixando saudade de la eu parti
Recordo os rios e a vila pequena
E uma morena que lá conheci
 Eu baixo os olhos com pranto que cai
Tão longe se vai a felicidade
São lágrimas tristes ó terra querida
Pedaço da vida chamada saudade
Aqui em São Paulo com tudo e sem nada
A vida agitada é cruel de ver
Ouço toda hora apito da indústria
É quase angustia o meu padecer
Nas ruas eu vejo os carros passando
Ao ficar olhando às vezes eu falo
Em Indaiatuba na sua Fazenda
A gente saia montado a cavalo
Só Deus sabe o que eu tenho sofrido
Meu grande pedido eu quero fazer
 A Jesus querido mandar-te um aviso
Do dia preciso que devo morrer
Pretendo rever toda aquela gente
De Indaiatuba que um dia deixei
Voltar novamente à terra de adoro
E fechar os olhos a última vez.


Faixa do disco Campeiro& Campeirinho “India Tupy”
Autoria: Campeirinho e Seyzen Okuma Gravadora Canta Viola-1981
Informações de Antonio Reginaldo Geiss


domingo, 1 de março de 2009

Texto de 1955 - Maria Nazareth Pimentel

CROMOS DE INDAIATUBA NA ÉPOCA DE SEU 1º. ANIVERSÁRIO
Texto de Maria Nazareth Pimentel publicado em 1955 na
" A Gazeta de Indaiatuba"


Cidadezinha humilde nascida sob o olhar carinhoso de N.S. da Candelária, não possuía a “Terra dos Indaiás”, na época de seu 1º. Centenário, água encanada.

A população abastecia-se nas torneiras localizadas em diversas esquinas e no famoso chafariz, ainda hoje existente no fim da rua Bernardino de Campos, naquele tempo Rua do Chafariz. Para esse mister eram utilizadas latas colocadas em carrinhos típicos, feitos geralmente de caixão de querosene, tendo na parte anterior uma roda cujo eixo se prendia a dois braços que se alongavam até a parte posterior. Quantas vezes não serviam eles de assento as comadres que, cansadas com a subida de volta do chafariz, faziam um ponto de parada e punham-se a fazer mexericos. - E como foram célebres os mexericos da Rua do Chafariz! - Eram esses, carrinhos conduzidos por crianças e também por muita gente grande.

Pela manhã, a população era despertada pelo ruído característico dos carrinhos em demanda das torneiras. À medida que o dia se aproximava aumentava o número, o barulho se tornava ensurdecedor e as ruas transformavam-se em verdadeiras pistas de corrida. Às vezes era tanta aglomeração em volta das torneiras que não raro terminava em cenas de pugilato. Como eram interessantes essas brigas!

- Agora é a minha vez dizia um.

- Não é nada, eu é que cheguei primeiro dizia outro.

- Sou eu!

- Não é!

Os que não tinham nada com a briga instigavam os contendores e... quando menos se esperava os briguentos afastavam os carrinhos e, dando-lhe um forte impulso, atiravam um de encontro ao outro. As latas saltavam longe amassadas, derramava-se a água de outra, estalavam os tapas enquanto a água escorria ao longo das sarjetas e a criançada aglomerada em volta dos briguentos torcia loucamente.

Quantas vezes o saudoso Hugo Lisoni não precisou apartar as brigas da torneira de fronte a sua casa...
E dos cines Recreio Internacional cujos salões tinham por forro bandeirinhas multicores, e por poltronas cadeiras de palhas, quem não lembra com saudade?

Antes de iniciar a sessão, tocava-se a pianola, e quando não, o Alberto Cego deliciava a platéia com sua sanfona.

Num dado momento surgia o empresário com bambu na mão, que era introduzido em um balde d’água colocado perto da pianola, e começava a molhar a tela. A criançada gritava, assobiava e batia palma, pois era sinal que iria começar a passar em partes destacadas as fitas de Harol Loyd, Carlitos,
Pearl White (Pear Vite como se dizia). No intervalo ia-se a porta comprar doce no tabuleiro de Nha Rosa Nha Bernardina. Nha Rosa ficava no Cine Recreio e Nha Bernardina no Cine Internacional. Quanta criança, hoje com diploma debaixo do braço, apesar de proibição da mãe fugia do Internacional pra comprar cocada de Nha Rosa, por que era cor de rosa...

E sabem quanto custava a entrada do cinema? 300 réis! Imaginem!... Bons tempos que não voltam mais...

Com todas as cidades, Indaiatuba possuía personagens populares, que faziam a alegria de muita gente.

Entre eles não podemos esquecer o velho ”Barba”. Filho da bela Itália, fez do Brasil a sua segunda pátria e de Indaiatuba sua terra natal. Era carregador da Estação e fazia o transporte de encomendas, malas dos viajantes em uma pequena carriola de mão.

Seu ponto de parada era o armazém do Ambrósio Lisoni, onde hoje é a “Casa Lyra”. Ali tomava com o Zé Pioli seus gostosos copos de vinho e fumava seu cachimbo, recordando a pátria distante. Muitas vezes enquanto bebia numa roda, o Hugo, o Miro e o Antoninho Bueno enchiam o seu cachimbo de pólvora e quando o “Barba” - já com ele entre os lábios, chegava-lhe o fósforo aceso, era aquele estouro, o cachimbo ia parar longe e o velho carregador dava início a sua coleção de superlativas...

Outras vezes amarravam a roda da carriola e quando saindo apressadamente empurrava-a e ela não saia do lugar... E os autores da brincadeira riam às bandeiras despregadas. Quando se tornava demais a brincadeira, Da. Maria Lisoni entrava no meio, esparramava com tudo para que o velho carregador ficasse em paz.

Quantas saudades! ...

Nota pitoresca era o “sino da cadeia”. Ocupava esta, a parte esquerda do edifício da atual Prefeitura Municipal.

O comércio funcionava à noite e uma ou outra pessoa andava pelas ruas. Nas portas das casas comerciais sentavam-se as famílias, enquanto as crianças brincavam. Ao aproximar-se às 21 horas as cadeiras eram recolhidas para dentro de casa e de repente... dim... dim... dim... 9 horas. Era o sino da cadeia, tocando recolhida. As portas se fechavam e ninguém mais se atrevia a sair pelas ruas. . . e o silêncio envolvia a bela terra dos indaiás.

Oh! Indaiatuba querida, como estás diferente!

Teus ares de cidade grande!...

Mas quantas recordações a simplicidade de tua vida de outrora desperta nos corações de teus filhos!

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